REVERENDO JOSÉ PAULO BROCCO
(Presidente da Assembleia Geral da IPCB)
O crescimento numérico da igreja é algo desejado por todos nós. Queremos ver a igreja crescendo, ampliando suas tendas e tornando-se forte e influente na sociedade.
É muito comum ouvirmos orações que expressam o desejo de crescimento numérico, mas, também e, principalmente, na “fé”. Entendo que não é errado orar assim; todavia, às vezes, soam apenas como formalidade e não um desejo real de crescimento, seja em números ou na fé. Por que isso? Temos saído para lançar a semente das boas novas de Deus para o mundo? A igreja tem crescido e se fortalecido na fé?
Ouvimos também comentários como: está muito difícil evangelizar em nossos dias; as pessoas não querem ouvir a mensagem de Deus e outros comentários. Porém, desde a entrada do pecado no mundo, houve algum momento que fosse fácil evangelizar?
Pensemos um pouco na sociedade, nos dias de Noé. “O Senhor viu que a perversidade do homem tinha aumentado na terra e que toda a inclinação dos pensamentos do seu coração era sempre e somente para o mal”. (Gn 6.5). “Ora, a terra estava corrompida aos olhos de Deus e cheia de violência. Ao ver como a terra se corrompera, pois toda a humanidade havia corrompido a sua conduta”. (Gn 6.11-12). O dilúvio foi um ato da justiça de Deus devido ao pecado na humanidade. A citação desse fato é para mostrar que, apesar da intensidade e da extensão do pecado, Noé foi o porta-voz no seu tempo.
Outro exemplo é da sociedade nos dias do apóstolo Paulo. “Trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram a coisas e seres criados, em lugar do Criador, que é bendito para sempre. Amém”! (Rm 1.25)
O livro de Atos registra cerca de trinta anos de história da Igreja. A história começa em Jerusalém e o livro termina com a prisão domiciliar do apóstolo Paulo em Roma. Nesse período a igreja experimentou um crescimento numérico extraordinário e expansão geográfica magnífica. Atos 9.31 registra um fato desafiador a todos nós. “A Igreja passava por um período de paz em toda Judéia, Galiléia e Samaria. Ela se edificava e, encorajada pelo Espírito Santo, cresciam em número, vivendo no temor do Senhor”. Especialmente, devido à morte de Estevão, a igreja expandiu-se e Jerusalém deixou de ser o único ponto de referência. Ela alcança Judéia, Samaria e Antioquia (Síria) e esta igreja tem uma importância enorme para a expansão do Reino de Deus por todo o império romano.
Os propósitos de Deus são soberanos e estão muito acima dos nossos. Saulo, o homem que havia perseguido a igreja, que deu o voto favorável à morte de Estevão, deixou de ser perseguidor e tornou-se um perseguido e isto tão somente pela graça de Deus.
O que levou a igreja a crescer em número e expandir-se geograficamente? As últimas palavras de Jesus, à Sua igreja, antes de ser elevado ao céu, foram: “Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra”. (At 1.8). Em Atos 2.42-47 registra o modo de vida da igreja e o resultado desse viver: “E tendo a simpatia de todo o povo. E o Senhor lhes acrescentava diariamente os que iam sendo salvos”. Lucas finaliza o verso 31 de Atos 9, dizendo: “vivendo no temor do Senhor”. Podemos dizer que a igreja, positivamente, causava impacto na sociedade, pois pregava fielmente a Palavra de Deus, a oração era parte vital da igreja e o testemunho era firme e forte.
Acho desafiador o final do livro de Atos. “Por dois anos inteiros Paulo permaneceu na casa que havia alugado, e recebia a todos os que iam vê-lo. Pregava o Reino de Deus e ensinava a respeito do Senhor Jesus Cristo, abertamente e sem impedimento algum”. (At 28.30-31). Termina com a prisão do apóstolo Paulo aguardando julgamento, mas registra que, embora preso, Paulo continuou pregando o evangelho. A história da igreja continua sendo escrita por aqueles que servem, de coração e com fidelidade, ao Senhor Jesus.
Por que a igreja hoje vive um momento tão crítico?
Certamente ela tem se afastado das doutrinas bíblicas, a liturgia é voltada, em grande parte, para o entretenimento das pessoas e não para a adoração a Deus, pouca confraternização entre seus membros e, menos ainda, vida em comunhão uns com os outros, os púlpitos estão enfraquecidos.
John Benton, em seu livro CRISTÃOS EM UMA SOCIEDADE DE CONSUMO, diz: “A causa principal da impotência da igreja cristã nos dias de hoje não é necessariamente os grandes pecados, mas o simples fato de que os cristãos se distraem com o que é trivial, com a infinidade de opções para ocupar o tempo na sociedade de consumo”. (p.42). É certo que isso ocorre porque a “sã doutrina” não tem sido pregada firme e ousadamente. As marcas de uma igreja, a pregação fiel das Escrituras, a administração correta dos sacramentos e o exercício da disciplina bíblica não têm sido marcantes na igreja e a ausência dessas marcas enfraquecem a igreja.
Embora o cenário seja difícil, não há porque esmorecer ou desanimar. Jesus é a Cabeça da igreja e é a Ele que devemos servir.
Vamos batalhar, juntos pelo crescimento numérico da igreja. E, para que isto seja uma realidade, por onde começar?
Amados irmãos presbiterianos conservadores. Há muita urgência de nossa parte em cooperarmos na expansão do Reino de Deus. Enquanto é dia e enquanto temos oportunidades é mister que anunciemos o evangelho a todo mundo.
O crescimento numérico da igreja não é mágico; deve ser fruto do ardor e da paixão de falar de Cristo às pessoas; ir ao mundo e, no meio da sociedade corrompida pelo pecado, ser sal da terra e luz do mundo. Jamais o crescimento numérico deve ser um fim em si mesmo, mas um meio para que o nome de Deus seja glorificado e exaltado.
As pessoas precisam ouvir sobre o caminho que leva o pecador a Deus. É o caminho do arrependimento. “E lhes disse: Está escrito que o Cristo haveria de sofrer e ressuscitar dos mortos no terceiro dia, e que em seu nome seria pregado o arrependimento para perdão de pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vocês são testemunhas destas coisas” (Lc 24.46-48).
Eis, para nós, um desafio: o crescimento da igreja. Esse desafio já foi lançado em nossa primeira pastoral, em 1940, que diz: “A vossa atividade, irmãos queridos, deve caracterizar-se, por um vivo espírito missionário. A Igreja Conservadora quer ser pujante e forte, nos alicerces de sua ortodoxia inabalável. Para esse desideratum ser atingido, fugi ao mal do proselitismo. Crescer pela admissão de membros de outras denominações, obtidos pela propaganda dos nossos princípios não satisfaz inteiramente. É o que em História Natural se chama de crescimento por aposição, de fora para dentro. O que deveis esperar é o crescimento de dentro para fora, ou seja, por intussuscepção. Este é seres vivos, enquanto que aquele é dos minerais.
A Igreja Conservadora surgiu para ser uma igreja viva. Para isso, são necessárias conversões de elementos estranhos ao meio evangélico, tocados pela graça de Deus, mediante a instrumentalidade do trabalho missionário”.
“O semeador saiu a semear” (Lc 8.5).