PASTORAL 1945
15 de maio de 2023
PASTORAL 1943
15 de maio de 2023
PASTORAL 1944

PASTORAL – 2 de Julho de 1944

Diletos Irmãos!

A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus Pai, e a comunhão do Espírito Santo sejam para sempre com todos vós. Amém.

Aprouve a Deus na sua misericórdia e sábia providência que chegássemos ao término de mais um ano de lutas em defesa dos princípios sacrossantos do Evangelho, pugnando pela ortodoxia à sombra do glorioso pavilhão que triunfantemente arvoramos no dia 11 de fevereiro de 1940.

Sejam as nossas primeiras palavras um canto de louvor e gratidão Àquele que nos tem acompanhado e nos acompanhará sempre nesta jornada, amparando-nos à sombra da coluna de nuvem da sua proteção durante as cálidas canículas através do deserto das múltiplas dificuldades e guiando-nos com a coluna de fogo da sua divina assistência nas negras noites em que se nos deparou problemas e tentações inúmeras. Mais um grão de areia se escoou na ampulheta do tempo e neste curso lapso de tempo muitas e grandes bênçãos recebeu a nossa jovem igreja. Antes, pois, de transpormos as ombreiras deste novo ano, imitando o exemplo do grande Samuel, levantemos bem alto em nossos corações um monumento de gratidão, dizendo “EBENEZER! Até aqui nos ajudou o Senhor.”

Temos a lamentar, mas fazemo-lo com submissão, a partida do nosso venerando irmão Rev. Bento Ferraz, que a 18 de abril p. passado, foi recolhido aos tabernáculos eternos, abrindo, no seio de nossa Igreja e do evangelismo nacional, uma grande lacuna que não pode ser preenchida. O ilustre paladino, que tanto se distinguiu nesta campanha conservadora, como em todas as campanhas que visaram a pureza dos imortais princípios que defendemos, foi uma figura de escol no seio do evangelismo nacional. Ele é que devia falar por meio dessa pastoral, mas a morte o levou antes de realizar esta obra. Continuará, porém, a falar-nos sempre por meio do seu exemplo de obreiro incansável e lutador impertérrito. Consignando aqui nossa sincera e justa homenagem a quem se houve com tanto valor na boa peleja da fé, fazemo-lo repetindo o pensamento de Jó: Deus no-lo deu, Deus no-lo tirou, bendito seja o nome do Senhor.

A GUERRA – Continua a assolar implacavelmente o mundo a tremenda hecatombe que estalou em setembro de 1939. Confrange-nos a alma diante do morticínio, da destruição e do cortejo de horrores e misérias que esta conflagração mundial está semeando por todo o mundo, mas estas coisas, não podemos duvidar, são prenúncios seguros da aproximação do advento de Cristo. Ao lado das calamidades da guerra, conseqüente à falta de reverência pela vida, o mistério da iniqüidade está operando, trazendo em seu bojo a indiferença religiosa, o modernismo, a incredulidade e a desagregação da sociedade. Estes acontecimentos não nos devem surpreender, visto que a Palavra de Deus claramente nos previne contra todos estes males. O que vai pelo mundo é o cumprimento das Escrituras. Cumpre-nos estar alerta nesta hora tremenda em que a humanidade sente o látego do castigo, chamando-a ao arrependimento. Vigiemos e oremos!

SANTA GIERRA – Tendo diante de nós o horrendo quadro de incêndio que as paixões carnais atearam, lembremo-nos de que há uma guerra mais tremenda ainda: aquela que se trava no mundo dos espíritos e na qual todos os homens tomam parte, uns como aliados de Cristo, o General Comandante das Hostes Celestiais e outros como aliados de Satanás, o príncipe das trevas. A neutralidade não é possível nesta santa e gloriosa guerra. A Escritura fala claramente dos resultados desta luta: coroa, louros e prêmios para os vencedores; punição e sofrimento eterno para os vencidos. Uma coisa nos deve animar a combater o bom combate: enquanto as nações se digladiam uma às outras, sem saberem antecipadamente a qual delas caberá a vitória final, nós, soldados de Cristo lutamos com a certeza da vitória de Cristo e seus aliados. No Apocalipse o Senhor já nos revelou o resultado final desta luta sagrada. A rebelião, que teve início no misterioso mundo dos espíritos, propagou-se na terra por intermédio da livre agência do homem. Nossos primeiros pais, dando ouvidos ao tentador, pecaram, trazendo sobre todos os seus descendentes a condenação e a morte. A luta começou entre Cristo e Satanás, entre a Luz e as Trevas, entre a verdade e a mentira, entre a Vida e a Morte. O Trino Deus estabeleceu um plano para libertar os pecadores, fez a mobilização espiritual: O Pai deu Seu Unigênito Filho ao mundo. Este veio à terra e morreu na cruz, onde despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo.” (Cl 2.15). A prova da sua completa vitória foi a sua ressurreição ao terceiro dia, fato que nós comemoramos todos os domingos e que merece a nossa máxima atenção. Assunto ao céu, como complemento daquela mobilização espiritual, enviou o Espírito Santo, o Parácleto, o seu Vigário na terra para ficar para sempre com a Igreja, para habitar no templo dos nossos corações.

DISPENSAÇÃO DO ESPÍRITO – Como vemos, estamos na dispensação do Espírito e importa que tenhamos sempre presente esta gloriosa verdade. Jesus diz: “Todo o pecado e blasfêmia se perdoará aos homens, mas se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado nem neste século nem no futuro.” (Mt 12.31-32). É que esta é a última dispensação em que o pecador pode escolher seu destino eterno, optando definitivamente e para sempre pela sua eterna salvação ou perdição. O Espírito Santo é o representante imediato de Cristo sobre a terra: o Parácleto está afeto tudo quanto se relaciona com a salvação dos pecadores. Ele regenera e santifica as almas; ilumina as mentes para compreenderem a verdade, inspira as orações e estabelece e vitaliza as nossas relações com Deus; escolhe os obreiros, qualifica-os para os para os múltiplos misteres do ministério; unge-os para o trabalho e executa na terra tudo o que consta naquele plano delineado pela inescrutável sabedoria de Deus, em que “a misericórdia e a verdade se encontraram: a justiça e a paz se beijaram.” (Salmo 85.10). Há muita ignorância ainda, a respeito da verdadeira doutrina do Espírito Santo. Não negligenciemos, pois, o seu estudo, fazendo-o assunto das nossas pregações e meditações.

SANTIFICAÇÃO – Se Deus não habita em templos feitos por mãos humanas, mas pelo seu Espírito habita em nossos corações (1Co 6.19), qual não deve ser o cuidado que devemos ter para com o nosso coração! “Sede santos  porque eu sou santo”, diz o Senhor. Não são só os pecados grosseiros, os grandes pecados, como a transgressão do sétimo mandamento, que devem ser evitados, mas também aqueles que o vulgo chama “pecadinhos”, como a mentira, o jogo do bicho, as libações alcoólicas e o baile, devem ser combatidos, e, censurados com a disciplina eclesiástica os que praticarem. Mesmo o vício do fumo e o exagero da moda, considerados “coisas inocentes” por algumas pessoas, já é tempo de movermos uma forte campanha contra eles, no sentido de aboli-los completamente. O pecado, sob qualquer forma que seja praticado, é desagradável aos olhos de Deus, entristece o Espírito Santo e prejudica as nossas relações vitais com o Senhor. Com esses pecados considerados pequeninos, como fios quase imperceptíveis, que vão sendo tecidos pouco a pouco pela nossa tolerância, é que Satanás faz a corda com que prende e arrasta para o inferno a muitas pessoas diariamente. Zelamos pela pureza da Igreja, sendo nós os primeiros a zelar pelas nossas vidas. Aos Conselhos compete aplicar a necessária disciplina, lembrando-se sempre que “Melhor é a repreensão manifesta do que o amor encoberto.” (Pv 27.5)

A REVELAÇÃO – Ninguém ignora o papel importantíssimo que desempenham na guerra, especialmente na guerra moderna, as vias de comunicação e os meios de transporte, e, neste sentido o rádio e a aviação já alcançaram fantásticas conquistas. As distâncias quase que desapareceram. Hoje podemos comunicar-nos com todo o mundo ao mesmo tempo, por meio de ondas hertzianas, e por via aérea já se podem transportar até tropas de um extremo a outro da terra. Uma coisa os homens não conseguiram ainda, nem jamais conseguirão: meios de transporte tão rápidos como os de comunicação. Isto que é impossível no mundo material é uma gloriosa verdade em relação ao mundo espiritual: a Escritura Sagrada – a Palavra de Deus, – é ao mesmo tempo o meio infalível e rapidíssimo de se comunicar conosco e de fazer chegar a nós as bênçãos espirituais de que carecemos. É perfeitíssimo e tão rápido que, pela presença do Espírito Santo em nós, não há solução de continuidade ente nós e Deus.

Imaginemos o tremendo desastre que adviria a uma nação que se visse de um momento para outro sem as suas vias de comunicação seus meios de transporte! Como são de vital importância estes meios, são cuidadosamente zelados, por meio de reparações constantes e melhoramentos tornando-os, quanto possível, invulnerável aos inimigos.

O príncipe das trevas, reconhecendo a importância que tem para nós a Bíblia, trabalha sem cessar, visando desmantelar os meios de comunicação e de transporte espirituais estabelecidos por Deus. A Bíblia tem sido combatida através de todos os séculos pelos inimigos da verdade arregimentados pelo diabo. Às vezes, têm-se apresentado vestidos com suas roupagens ensangüentadas das tremendas perseguições; outras vezes, como século 18, com a capa falsa da ciência e, ultimamente como anjos de luz os modernistas racionalistas, fideistas, evolucionistas, etc. Os seus esforços, porém Têm sido baldados. A Bíblia como bigorna indestrutível através dos séculos, vem quebrando todos os martelos da crítica ímpia e resistindo a todos os ataques da incredulidade. A picareta e a pá, a serviço da arqueologia, vem tirando do coração da terra as armas para combater a falsa ciência; exércitos do Senhor vai levantando aqui e ali, como os antigos apologetas; faz surgir movimentos reivindicadores, como o da Reforma do século XVIII, como o que está realizando a Igreja Presbiteriana da Bíblia, nos EE.UU. da América do Norte, como o que a nossa querida Igreja Presbiteriana Conservadora está realizando em nossa estremecida pátria. Grande é, irmãos, o nosso privilégio. Deus nos escolheu para realizar uma obra importantíssima neste recanto do mundo. Continuemos, firmes e coesos, no glorioso posto em que o Senhor nos colocou,a defender a ortodoxia, denunciando o modernismo e todos os demais ismos que se opõem à Palavra de Deus.

A ORAÇÃO – Esta é a respiração da alma e não exageramos em dizer que é também a alma da religião. A verdadeira oração só existe quando é feita “no Espírito” (Jd 20), que intercede por nós com “gemidos inexprimíveis” (Rm 8.26). Assim sendo, a primeira oração verdadeira que fizemos foi aquele grito que partiu dos nossos corações no dia em que fomos “regenerados pela Palavra de Deus, viva e que permanece para sempre.” (1Pe 1.23). O nosso novo nascimento foi anunciado com esse grito, quando pela misericórdia de Deus e pela instrumentalidade de sua Palavra o oxigênio da vida espiritual invadiu as nossas almas. Desde aquele momento feliz ficaram estabelecidas as nossas relações vitais com Deus, inaugurando-se para nós todas as vias de comunicação e meios de transporte espirituais. Começou a nossa santificação. O nosso crescimento pode ser maior ou menor, dependendo da nossa maior ou menor apropriação dos meios de graça que Deus, pela sua misericórdia, estabeleceu. A lei no mundo social é: “Quem não trabalha que não coma” e no mundo espiritual esta verdade permanece. A miséria material é filha da negligência e a nossa falta de crescimento espiritual está no desprezo ou mau uso que fazemos dos meios de graça: leitura da Bíblia, oração e participação dos sacramentos.

VIDA DEVOCIONAL – Na atualidade, o rádio é o mais perfeito sistema de comunicação existente. Dele podemos aprender lições importantíssimas para a nossa vida devocional. Todo aparelho receptor perfeito pode ser sintonizado para captar ondas curtas, médias e longas, dispondo para esse fim de um “dial” (mostrador) fixo e de um ponteiro móvel. Quanto maior for a freqüência da estação transmissora, menor é o cumprimento de sua onda, mas também maior é o seu alcance podendo ser ouvida em todo o mundo. A sua sintonização, porém, é mais difícil, exige mais atenção e paciência da nossa parte. Na vida devocional há também três maneiras de nos comunicar-nos com Deus por meio da leitura bíblica e da oração.

  1. a) Culto individual – Jesus disse: “Quando orares, entra em teu aposento, e, fechando a porta, ora a teu Pai que está em oculto.” (Mt 6.6). É no silêncio do nosso quarto, realizando diariamente a nossa “Hora Tranqüila”, que nós podemos ouvir bem a voz de Deus e receber a abundância da vida espiritual que nos são transmitidas pela leitura de sua santa Palavra; é nesses momentos solenes que nós podemos abrir completamente o controle de volume dos nossos corações, a fim de ouvir a voz que nos veio do infinito através das ondas ultra-curtas da Palavra de Deus. Ali, a sós com Deus, “que vê em secreto”, confessemos a Ele os nossos pecados (nossa falta de amor para com Ele e para com o próximo) que entravam as nossas relações íntimas com o “Pai da luzes”. Pela confissão, descongestionamos as nossas almas, passando a respirar mais abundantemente o oxigênio espiritual; os nossos corações passam a pulsar mais fortemente; a nossa fome e sede de justiça aumentam; as nossas forças espirituais se multiplicam; os olhos da nossa fé se abrem; os nossos ouvidos se aguçam; o nosso paladar espiritual se aperfeiçoa; a nossa face, iluminada pela presença de Deus, como no caso de Moisés, adquire um brilho especial, revelando “o gozo inefável e cheio de glória” que nos vai nalma. É nessa “Hora Tranqüila” que o pregador recebe a mensagem viva e vigorosa para transmiti-la aos ouvintes pelo púlpito, capaz de edificar os crentes e converter as almas; a força para confortar os aflitos; o vigor para exortar os desviados, e tudo o que necessita para desempenhar bem o seu ministério. É na “Hora Tranqüila” que mestres, os pais, os crentes, recebem a capacidade que vem de Deus para cumprirem sua missão no lar, na Igreja e na sociedade. Oh! Quanta negligência há neste sentido! Quantas pessoas por simples comodismo, uns. Alegando falta de tempo, devido às grandes complicações da vida moderna, outros, deixam de realizar o seu culto individual, privando-se dos seus inúmeros benefícios. É assim que se explica o fracasso de muitos ministros e crentes. Olhemos para o exemplo de Cristo: no recesso do jardim do Getsêmani se insula do mundo, passando em doce comunhão com o Pai as primeiras horas da manha, e nesse mesmo lugar, em oração ainda, sua gotas de sangue, desse precioso sangue que purifica todos os nossos pecados! Irmãos, imitemos o exemplo do divino Mestre; que nada nos prive de realizar esta “Hora Tranqüila”, rica fonte de infinitas bênçãos espirituais.
  2. b) Culto doméstico – As ondas médias também são de grande alcance e por esta razão são aproveitadas para as comunicações que interessam a todo o país. As bênçãos que recebemos na “Hora Tranqüila” devemos retransmiti-las no culto doméstico aos queridos que nos cercam, distribuindo-lhes, diariamente, as instruções religiosas e o Pão da Vivo da Palavra de Deus. É no lar, no santuário das famílias, que Deus acende a lareira da vida espiritual, a fim de que a sua luz e o seu calor se irradiem para o mundo, refletindo-se, de modo especial, na Igreja. Daí, a importância do culto doméstico. É no aconchego da família, no altar da devoção, que primeiramente o Senhor nos ordena exercer a missão de sacerdote a fim de ministrar aos que nos cercam o Pão e a Água da Vida, bem como oferecer os sacrifícios de louvor e ações de graça que sobem ao trono de Deus pela mediação do Sumo Sacerdote – Cristo. É no lar que se molda o caráter cristão e se polariza a personalidade religiosa por meio dos princípios santificadores do evangelho, imunizando-nos contra as influências deletérias do pecado e contra o veneno letífero dos vícios e dos erros. O abandono do culto doméstico é o responsável por esse indiferentismo religioso e por essa vida espiritual de intermitências que observamos no seio das nossas igrejas. Sem a prática desta devoção diária, o fogo do altar da família se apaga e a vida espiritual se cristaliza. Uma casa onde se inicia e se termina o dia sem orar e sem partir juntos o pão da Palavra de Deus, não é mais do que uma reunião fortuita de pessoas que tanto podem viver juntas ou separadas. É um formigueiro, no qual cada um caminha na direção que deseja, e donde se encontram uns com os outros, sem terem consciência de ser membros do mesmo corpo e herdeiros das mesmas promessas e esperanças. Um culto doméstico bem nutrido é u’a maravilha de fogo ao redor de toda nossa casa. Ninguém que realize diariamente a “Hora Tranqüila”  deixará de realizá-lo, tendo presente as palavras de S. Paulo: “Se alguém não tem cuidado seus principalmente dos da sua família, negou a fé, e é pior do que o infiel.” (1Tm 5.8).
  3. c) Culto Público – “Não abandoneis a vossa congregação, como é costume de alguns.” (Hb 10.25), é a exortação apostólica que devíamos ter sempre presente. O Senhor, sabiamente, estabeleceu o descanso hebdomadário atendendo a uma necessidade física e ao mesmo tempo espiritual do homem. Ninguém pode alegar que não tem tempo para ir à igreja, a não que implicitamente declare que está transgredindo o domingo, o dia do Senhor. Infelizmente nota-se em nossos dias muito falta de respeito para com o dia do Senhor e muitos se privam de grandes bênçãos que o culto público subministra. Este dia deve ser santificado, separado completamente para os exercícios religiosos em público. Aos Conselhos compete chamar a atenção dos transgressores, sob pena da própria igreja se tornar responsável por este grande descalabro.

A expressão “Vamos assistir ao culto” deve ser substituída por esta outra: “Vamos prestar culto a deus”. É necessário que todos tomem parte ativa no culto, acompanhando todos os seus atos com máxima reverência e atenção.

No culto público damos esta expressão solene à nossa religião e convém frisar que só o podem fazer com legítimo direito aqueles que fizerem os devidos usos das ordenanças estabelecidas por Cristo: o Batismo e a Ceia do Senhor. Se os pais “não se devem descuidar de apresentar os seus filhos ao batismo”, a igreja não deve descuidar-se tão pouco de mostrar a necessidade de profissão de fé, verdadeira confirmação daquele Batismo, em obediência a Cristo que disse: “Todo o que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus.” (Mt 10.32). É por meio dela que nos separamos publicamente do mundo e nos consagramos a Deus. Pela participação da Ceia do Senhor, cujos elementos, pão e vinho, nos lembram o corpo e o sangue de Cristo, – publicamente agradecemos a Deus a nossa redenção e estreitamos a nossa comunhão com ele em com os nossos irmãos. É por meio destes atos de culto, em linguagem concreta e dramatizada, que podemos testemunhar, aos estranhos que comparecem às nossas reuniões, as grandes verdades do Cristianismo, verdades que, em particular, explicaremos aos mesmos em contacto  com eles em nossas lides diárias e por meio de um testemunho eficiente. Se “o fazer a vontade de Deus deve ser a nossa comida” (Jo 4.34), façamos do culto público nossa delícia, dizendo como o salmista: “Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor.” (Sl 122.1). Não deixemos de comparecer aos cultos, senão por motivos que possamos justificar diante de Deus, a fim de não nos privarmos dos seus múltiplos benefícios e privilégios.

A IGREJA – Esta é o exército espiritual organizado por Cristo, o Invicto General, sendo a sua missão libertar as almas que se acham sob o cativeiro do pecado e prisioneiras do Diabo. A vitória da Igreja é certíssima por meio de Cristo, e para que cada soldado que a integra seja vitorioso, necessário é que esteja ligado ao Senhor por uma viva e íntima comunhão, através dos meios de graça, atrás expostos. Um exército torna-se invencível, não só quando é numeroso, mas quando conta com bom número de oficiais idôneos e soldados bem adestrados, equipados, alimentados e disciplinados.

  1. a) Ministros – Os presbíteros docentes (ministros da Palavra), só podem ser idôneos quando escolhidos e enviados pelo próprio Deus. Por isso Jesus ensinou: “Rogai ao Senhor da seara que envie obreiros para a sua seara.” (Mt 9.37). A igreja de Antioquia, fiel à palavra de Jesus, estava reunida em oração e jejum, quando ouviu a voz do Espírito Santo, dizendo: “Separai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado.” (At 13.2-5). Depois desta manifestação do Espírito é que a igreja, orando e jejuando novamente, impôs as mãos sobre eles e os enviou. O magno problema de nossa Igreja é a sua falta de obreiros. Seguindo os trâmites legais estabelecidos pela Palavra de Deus, roguemos ao Senhor que nos envie mais obreiros, obreiros idôneos, escolhidos e habilitados pelo Espírito Santo, a fim de atenderem às necessidades da imensa seara conservadora que branqueja. Façamos isto assunto das nossas orações na “Hora Tranqüila”, nos cultos domésticos e público, e veremos surgir as vocações ministeriais de moços cheios do Espírito Santo que, desdenhando as glórias efêmeras com que lhes acenam as carreiras seculares nas miragens deste mundo que passa, virão engrossar as fileiras do nosso ministério. Outrossim, a Igreja deve reconhecer que a eficiência dos seus ministros depende, não só do preparo esmerado que recebem nos Seminários, mas das orações da mesma em favor deles, razão porque S. Paulo escreveu: “Irmãos, orai por nós.” 1Ts 5.25) e “Orando no Espírito … para que me seja dada, no abrir de minha boca, palavra com confiança para fazer notório o mistério do evangelho.” (Ef 6.19). Lembremo-nos de que Deus libertou a Pedro da prisão em resposta às orações da Igreja de Jerusalém. A Igreja hodierna muito pode fazer em prol dos seus ministros, auxiliando-os a resolver seus inúmeros problemas, entregando-se à prática salutar de orar pelos seus guias espirituais.
  2. b) Presbíteros e Diáconos – Os presbíteros regentes (que governam) e os diáconos (ministros da distribuição), desempenham um papel importantíssimo no seio da Igreja, e só Deus mesmo pode indicar, pelo Seu Espírito, as pessoas idôneas para ocuparem esses cargos. Estes oficiais só devem ser escolhidos pela Igreja depois de muita oração.
  3. c) Doutrinamento – Timóteo, “como bom soldado de Cristo, como obreiro que não tivesse do que se envergonhar, devia manejar bem a Palavra da Verdade e confiar o que havia recebido a homens fiéis, que fossem idôneos para ensinar também a outros.” Isto nos mostra a grande necessidade que a Igreja toda tem de ser doutrinada, de “conhecer todo o conselho de Deus, a fim de cada crente possa “estar preparado para responder a qualquer que lhe pedir a razão da esperança que há nele.” (1Pe 3.15). A nossa Igreja surgiu como conseqüência de uma reação doutrinária e importa que jamais esmoreça em seu zelo pela ortodoxia, no combate ao modernismo avassalador. Esta é a nossa mística. Não a abandonemos. Os soldados conservadores devem, imitando o exemplo de Neemias e seus companheiros, “enquanto edificam a igreja e levam as suas cargas na Casa do Senhor”, fazer com u’a mão obra e na outra ter as armas (Ne 4.7). Para isso é necessário que toda a igreja seja doutrinada, que os oficiais, os ministros da Palavra, ensinem os seus soldados a manejar as armas, armas que se acham no divino arsenal da Palavra de Deus. Esta é que nos oferece a panóplia, a armadura completa, da qual nos revestimos “orando no Espírito”, como atrás ficou exposto.
  4. d) Alimento espiritual – Os soldados só podem lutar com denodo quando bem alimentados e a boa alimentação depende mais da sua qualidade do que da quantidade. Alimentos ricos em vitaminas devem ser preferidos. Pois bem, a Palavra de Deus oferece o “leite racional” e o “manjar sólido” com que os soldados devem alimentar-se espiritualmente. Em vê de irem respigar na seara imensa dos livros humanos, onde há tantos frutos deteriorados e envenenados pelo vírus modernista, recorramos à divina seara da Palavra de Deus, onde podemos encontrar tudo o que as nossas almas necessitam, sendo-nos possível colher frutos ricos em vitaminas espirituais no seu frescor e pureza. Alimentando-nos dos frutos do amor divino, receberemos as energias espirituais para amar e produzirmos os frutos, o amor com as oito vitaminas que o apóstolo menciona em Gálatas 5.22. Leiamos a Bíblia inteira pelo menos uma vez cada ano, lendo três capítulos nos dias úteis e, cinco, aos domingos.
  5. e) Disciplina – A disciplina militar é rigorosa e não menos deve ser a eclesiástica. A ortodoxia abrange os dois aspectos: pureza doutrinária e santidade de vida. São irmãos siameses que não podem viver separadamente. Sejamos, pois, ortodoxos na verdadeira extensão da palavra, conservando a doutrina, exigindo dos fiéis um padrão de conduta religiosa que seja a expressão real dessa mesma doutrina em nossas vidas. Não façamos questão de quantidade, mas sim de qualidade. Com trezentos gideonitas, apenas, Deus venceu a multidão de midianitas. Toda e qualquer desobediência à Palavra de Deus e aos dispositivos da Constituição e Ordem deve ser punida com disciplina adequada e justa, visando a glória de Deus e a correção dos transgressores. Risquemos de nosso vocabulário eclesiástico a palavra “tolerância’” como sinônimo de “relaxamento” , “frouxidão”, tendo presente, sempre, que “melhor é a repreensão manifesta do que o amor encoberto.” Pv 27.5). A disciplina está em sermos obedientes e em fazermos com que os outros o sejam também. Todos são concordes em afirmar que a disciplina é um dos característicos da Igreja verdadeira. Pugnemos pela mesma, a fim de que a nossa igreja não desminta nunca que é um verdadeiro ramo da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo.

EVANGELIZAÇÃO – A missão precípua da Igreja é evangelizar o mundo e conquistar almas para Cristo, cuja ordem foi: “Ide e pregai o evangelho a toda criatura.” Mt 28.19). A presente guerra é uma prova das grandes necessidades espirituais do mundo. A Igreja deve assumir para com o mundo a atitude daquele homem que foi à meia-noite bater à porta do seu amigo rico, a fim de pedir-lhe, emprestados, três pães para socorrer ao seu amigo faminto que o procurou, vindo de uma longa viagem, cuja história foi narrada por Cristo e registrada em Lucas 11.5-8. Quando a Igreja considera o mundo como um amigo necessitado a quem deve socorrer, oferecendo-lhe os três pães, respectivamente, para o corpo, para a mente e para o espírito, descobre imediatamente a sua própria miséria, e Deus pelo Seu Espírito, desperta-lhe o espírito missionário, que leva a abandonar as suas próprias comodidades e a ir importunar o Supremo Amigo que lhe dá, não somente os três pães que pede, mas “tudo quanto houver mister” para ela mesma, com entusiasmo, alegria, paz e abundância de vida espiritual, coisas que só se podem obter como resultado do trabalho missionário.

Evangelizamos a tempo e fora de tempo, começando esta obra com “Hora Tranqüila” e nos cultos domésticos e público, fazendo da nossa própria tenda de trabalho, do nosso lar, da Escola Dominical, das reuniões públicas e da imprensa verdadeiras agencias de evangelização. As fileiras do nosso exército conservador irão sendo engrossadas com os novos soldados que aparecerão, convocados pela pregação da Palavra de Deus, os quais “Deus elegeu desde antes da fundação do mundo e que predestinou para a vida eterna.” (Rm 8.28-30).

Importa sempre doutrinar, porque Jesus ordenou “fazer discípulos de todas as nações, ensinando-as a observar todas as coisas que Ele mandou.” Isto é um golpe de morte no modernismo e no fideismo que crêem na possibilidade da conversão dos homens sem o conhecimento das doutrinas escriturísticas.

A missão suprema da Igreja é evangelizar. A proclamação das maravilhas do evangelho, “para as quais os anjos desejam bem atentar” (1Pe 1.12), foi entregue a ela, composta de homens remidos pelo poder que esse mesmo evangelho proclama. “Para estas coisas quem é idôneo?” “A nossa capacidade vem de Deus” (2Co 3.5), de Cristo, que nos prometeu a sua constante assistência: “Eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos.” (Mt 28.20).Caracterize-se a nossa igreja pelo seu espírito missionário, como a Igreja Apostólica, “e todos os dias irá o Senhor acrescentando ao nosso exército conservador aqueles que se hão de salvar pela nossa instrumentalidade.” (At. 2.47)

CONTRIBUIÇÕES – Para se fazer a guerra são necessários, indispensáveis, os recursos materiais. A mobilização econômica cria impostos extraordinários e fazem-se campanhas especiais. A fiscalização é rigorosa e aos que se negam a cooperar no esforço de guerra por esta forma, procurando lesar o fisco, alem de ficarem com seus direitos cassados, impõem-se-lhes pesadas multas. Ninguém nega à nação o direito de cobrar impostos e de impor pesadas multas aos que transgridem as leis estabelecidas. Deus também estabeleceu um método divino de contribuição – o DÍZIMO. Muitos crentes dizem que o dízimo foi estabelecido só para a antiga dispensação, mas nós cremos que está em voga na atual dispensação. Assim como o descanso hebdomadário é uma lei divina que não pode ser abolida, e o Novo Testamento o conserva na santificação do domingo, da mesma forma devemos conservar o sistema de contribuição por Deus estabelecido. Jesus disse: “Se a nossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus.” (Mt 5.20). Se os judeus pagavam o dízimo e davam ainda outras ofertas, os cristãos não podem nem devem ficar atrás. O Novo Testamento não estabeleceu nenhum preceito que determine o quanto se deve dar sistematicamente.

Assim sendo, o conceito das palavras do profeta Malaquias aplica-se também a nós. E que é que o Senhor ali nos diz? “Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque me roubais a mim, vós, toda a nação. Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim, diz o Senhor dos Exércitos, seu eu não vos abrir as janelas dos céus e derramar sobre vós uma benção tal, que dela vos advenha a maior abastança. E por causa de vós repreenderei o devorador para que não vos consuma o fruto da terra.” (Ml 3.8-10). São incisivas estas palavras. Quão longe estamos de cumprir o que Deus nos ordena aqui e muito longe estamos de contribuir como os antigos judeus contribuíam! Muitos crentes se esquecem que soa mordomos, que os bens que possuem são de Deus, que lh’os entregou para administrá-los. Estão prontos a pagar juros a terceiros, mas querem negar a contribuição ao Dominador de tudo. Àquele de quem é “a terra e sua plenitude.” (Sl 24.1). De Deus não se zomba: quem não paga o dízimo ao Senhor, ou não dá a Ele ofertas de gratidão, não quer ter Deus como seu sócio, e, finalmente, acabará por não ser mais mordomo. Quantos crentes há que anda contribuem para a causa de Deus, mas que também nunca prosperam nem material nem espiritualmente. Tudo gastam em doenças; perdem em maus negócios, plantam muito e colhem pouco. Será castigo? Possivelmente, sim. Os fiéis dizimistas sempre prosperam, a menos que se tornem infiéis. O Senhor nos lança um desafio: “Provai-me”, aproveitemo-lo, irmãos. Em pouco tempo teremos a prova de que Deus cumpre fielmente a sua palavra e nós mesmos diremos, como muitos já o têm dito: “Porque é que há mais tempo eu não me tornei dizimista? Quanto tempo eu perdi!”

Quem não contribui para Deus não poderá nunca contar as bênçãos de Deus ba vida material. A nossa contribuição será sempre o termômetro a indicar a nossa maior ou menor gratidão a Deus, e quanto maiores forem, maior será a nossa alegria e contentamento. Sejamos, pois, mordomos fiéis e gratos e veremos a resposta a muitas das nossas orações que até hoje não foram respondidas. O Senhor nos manda pedir mais obreiros, mas se não contribuirmos para o sustento deles, de nada nos aproveitará abrir as nossas bocas, deixando fechadas as nossas bolsas.

CONSAGRAÇÃO – Inspiremo-nos no exemplo das igrejas da Macedônia, o que S. Paulo chama uma “graça de Deus”, “porque segundo o seu poder (o que eu mesmo testifico), e ainda acima do seu poder, deram voluntariamente.” (2Co 8.3). Qual a razão dessa “graça”? É que “a si mesmos se deram primeiramente ao Senhor” (v.5), “como um sacrifício vivo, santo e agradável a deus.” (Rm 12.1). Feito este primeiro sacrifício, todos os demais tornam-se fáceis, e achamos o nosso maior deleite em fazer a vontade de Deus. Os que chegam a este estado feliz, não só praticam com a máxima alegria tudo o que atrás dissemos, mas contribuem alegremente, não somente com o dízimo e ofertas, porém, colocam ao serviço de Deus todos os talentos que receberam. A guerra impõe aos cidadãos certos sacrifícios, certas economias que revertem em favor dos cofres públicos, e daí o racionamento como medida de emergência. O crente fiel, vendo a causa de Deus sofrer por falta de recursos, estabelece para si mesmo um relacionamento, não obrigatório, mas voluntário; sacrifica passeios, certos prazeres e confortos, num esforço especial em prol da causa de Cristo. Quantos crentes que fumam, se abandonassem esse vício nojento, poderiam contribuir com mais Cr$ 2,00 diariamente, que é quanto gastam em soltar fumaça para o ar!

Irmãos, soldados de Cristo, “se os lutam para alcançar uma coroa corruptível de tudo se abstém”, muito mais devemos fazê-lo nós, a fim de receber a coroa incorruptível de glória, da vida eterna. Pelejemos, pois, a boa peleja, nesta santa guerra, “com os olhos sempre fitos em Jesus, o Autor e consumador de nossa fé”, e seremos mais do que vencedores por Aquele que nos amou. No céu, em tom triunfal, contemplando face a face o nosso Rei, cantaremos sempiternamente os epinícios da “vitória que já se avista.”

“Ora, o Deus de paz, que pelo sangue do concerto eterno tornou a trazer dos mortos a nosso Senhor Jesus Cristo, grande pastor das ovelhas, vos aperfeiçoe em toda a boa obra, para fazerdes a sua vontade, operando em vós o que perante ele é agradável por Cristo Jesus, ao qual seja glória para todo o sempre. Amém!”

São Paulo, 2 de julho de 1944

(Ass.) Rafael Camacho,

Armando Pinto de Oliveira

Francisco Augusto Pereira Júnior

Flamínio Fávero

Roberto Hecht

João Rodrigues Bicas

Isaías Cândido de Lima

Otávio Martins

Azor José Rodrigues

Valentim Martins Rodrigues

Joaquim Benedito Vieira

Policarpo Ferreira

Horácio Pereira

Adelino Rodrigues de Oliveira

Virgílio Garcia Duarte

Antônio Euclides Cavalheiro

Salomão Pereira de Carvalho

Joaquim Bittencourt

Avelino Souza Morais

Alfredo Alípio do Vale

José Palone, Isoraldo Martins Coelho.