PASTORAL 1954
15 de maio de 2023PASTORAL 1952
15 de maio de 2023PASTORAL 1953
PASTORAL – 1953
Rev. Antonino José da Silva
Prezadíssimos irmãos conservadores do Brasil:
Saudamos-vos cordial e afetuosamente em Jesus Cristo, rogando a Deus que vos dispense as Suas abundantes e ricas bênçãos, extensivas às vossas queridas famílias e aos vossos trabalhos na seara do Mestre.
Enviando-vos esta Pastoral, não estamos apenas satisfazendo uma praxe nossa, ao contrário, queremos significar com ela plena consciência das nossas grandes obrigações perante Deus e a Sua Igreja. Sentimos que Deus nos chama, a todos, para uma grande obra de fé e testemunho da verdade. Todos os crentes conservadores do Brasil, estejam eles nas mais pujantes cidades ou nos mais distantes rincões da pátria, são aqui convocados para participarem ativamente de uma campanha constante de vigilância espiritual. O momento não comporta meias medidas. Exige de todos os nossos irmãos, individual e coletivamente, decisões certas e determinações conscientes de obediência.
São Paulo, o apóstolo decidido, divinamente inspirado, já tratara deste assunto, afirmando: “vigiai, ficai firmes na fé, portai-vos varonilmente, e fortalecei-vos.” (1Co 16.13). Esta vigilância é ordenada por Deus como um imperativo categórico. Fazendo-nos porta-vozes dessa ordem divina, queremos fazer sentir a todos os conservadores que devem e precisam ser vigilantes: –
1º. No setor doutrinário
Há treze anos que os conservadores ergueram o estandarte da integridade doutrinária, num esforço abençoado de coibir os abusos e sustentar a avalanche do modernismo. A razão, pois, de sermos um organismo religioso está na fidelidade à doutrina divinamente inspirada. Continuamos primando, mercê de Deus, pela manutenção da sã doutrina e pela repulsa ao modernismo e ao maçonismo dentro da Igreja de Cristo. Desde o início, muitos membros aderiram a esse grito de alerta, abandonaram o ambiente contaminado, e cooperaram sempre nesta nobre tarefa renovadora. Damos graças a Deus por tudo isso e pelas bênçãos que derramou sobre este salutar movimento. Mas temos a lamentar a facilidade com que, ultimamente, alguns membros, felizmente poucos, em alguns lugares distantes, estão voltando atrás, ao ambiente contaminado de onde saíram, com tanta naturalidade, que nos impressiona. Não refletem que, no passado para igrejas infestada de maçons e modernistas, estão apoiando o erro e abandonando a verdade. Estamos certos de que se estivessem vigilantes, não dariam esse passo retrógrado. Por essa razoa, insistimos, prezados irmãos em Cristo, no sentido de que não deveis dar crédito aos que vos insinuam a recuar. Conservar-vos fiéis a Cristo e à doutrina bíblica. E não vos desvieis da Igreja que vem sustentando a pureza doutrinária. Vigiai sempre a respeito, velai por vós mesmos.
Deus sempre esteve e estará com o Seu povo, exatamente na proporção em que se mantiver fiel à doutrina. Recuar é perigoso e traz enormes responsabilidades sobre os que recuam. Prosseguir avante, vigilantes, sustentando sempre a verdade pura, obedecendo sempre ao dito divino, é o dever de todos e de cada um nesta hora trágica da vida humana e da Igreja de Deus.
O “inimigo ataca sem parar”. Preciso é que os crentes resistam sem vislumbre de afrouxamento. O corpo eclesiástico deve ser conservado forte, pelo fortalecimento de cada parte, para ser vitorioso contra o mal e a heresia. Os crentes primitivos conseguiram vitórias deslumbrantes, porque “perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão e nas orações.” (Atos 2.42). Eram vigilantes e venceram por Aquele que os amou. É o que esperamos dos prezados irmãos.
2º. No setor educacional
Escreveu alguém que “a educação é a arte de cultivar, desenvolver, fortificar e aperfeiçoar todas as faculdades físicas, intelectuais, morais e religiosas, que constituem na criança, a dignidade humana”. “Educar é formar hábitos e ensinar a viver”, refere outro pensador. Nesse sentido elevado, temos muito o que fazer. A Igreja precisa de muita vigilância para que o mal não venha minar e destruir. Os pais, no lar, precisam harmonizar a energia e o amor, para poderem dar aos filhos orientação condigna dentro das normas bíblicas, visando à formação de caracteres firmes, convicções salutares, hábitos corretos, criando, enfim, os filhos, “na doutrina e na admoestação do Senhor” (Ef 6.4). Para tanto, precisam ser exemplo para os filhos, praticando a doutrina e vivendo o Evangelho. A indisciplina que por toda a parte se nota só pode ser vencida pela disciplina cuidadosa e firmemente administrada.
As Escolas Dominicais têm de vigiar sobre si mesmas no sentido de reajustar seu aparelhamento para atingir seus fins com mais produtividade educacional. O seu objetivo é evangelizar e educar crianças, jovens e adultos, afastando-os de todos os vícios e males corrosivos, e preparando-os para toda a boa obra. (2Tm 3.17), estimulando-os na conquista de uma vida escondida com Cristo em Deus (Cl 3.3). Não podem e não devem falhar neste ponto nevrálgico.
Vários psiquiatras de diversos países, inclusive p insigne Dr. Pacheco e Silva, reunidos em Paris, em 1952, descobriram que uma das causas da nossa decadência “está na diminuta preocupação dos pais com a educação dos filhos, e na deficiência comprovada das escolas, que se ressentem de muitas e graves falhas, e não estão em condições de desempenhar uma função verdadeiramente formativa.” (“O Est. De S. Paulo” – de 2.10.952). “O coração se torna inquieto quando não repousa em Deus”, afirmou certo estudioso. Daí a inadiável necessidade de vigilância contra os males do século. Convocamos todos os pais conservadores, e as entidades competentes, para um trabalho bem orientado no sentido de se formar uma mentalidade cristã, arejada e nutrida pela verdade inspirada. Vigiemos para não perdermos a coroa.
3º. No setor da evangelização
A evangelização é uma das principais funções da Igreja de Cristo. Com o Seu imperioso “ide por todo o mundo”, Jesus Cristo definiu a missão gloriosa da Sua Igreja militante. Os conservadores integram a Igreja do Senhor. Logo precisam intensificar o seu desejo de evangelizar as almas, ajustando-se assim aos propósitos divinos.
Evangelizar significa anunciar “as boas novas” de salvação, ou seja o nascimento de Cristo como Salvador de todos os crentes. Esta mensagem de fé, de concórdia e de redenção em Jesus tem de ser proclamada a todas as criaturas humanas. E esse encargo está sobre os ombros da Igreja.
“O mundo acha-se tão afundado no pecado, que dificilmente apreciará o quanto vale livrar-se dele”, observou certo ministro, mas, por isso mesmo importa que a Igreja se dedique mais ao evangelismo para levar os homens à compreensão dessa bendita “boa nova”. Convém convencê-los de que há salvação de pecado para os que aceitam o sacrifício de Cristo na cruz e se arrependem.
Sublinhamos também que evangelizar não é simplesmente pregar o Evangelho da paz. É preciso levar o pecador a Cristo, como fez André, tornando-se consciente de que sem Cristo perecerá para a eternidade e privar-se-á, neste mundo, de muitas bênçãos e felicidades. A pessoa só está evangelizada, na realidade, quando crente, salva, regenerada, gozando a paz de consciência, vivendo pela fé.
À Igreja cabe essa noblitante responsabilidade. Encaminhar para Cristo as almas de boa vontade. E pode desincumbir-se dessa missão mediante o trabalho coletivo e o testemunho individual. Quer dizer que todos os crentes verdadeiros, conscientes, fiéis e vigilantes, participam ativamente dessa bendita semeadura. O campo é vasto, exige e comporta o serviço de todos e oferece-lhes oportunidades especiais para a pregação do Evangelho. A vigilância aqui se impõe contra a indiferença, o comodismo, o temor e os respeitos humanos.
A Igreja Presbiteriana Conservadora tem o privilégio de ver seus membros espalhados por grandes áreas territoriais. Se, por um lado, tal fato constitui um dos seus mais agudos obstáculos, por outro lado, é certo que a favorece na obra evangelizante. Está aí um prenúncio de uma grande denominação evangélica. Se todos tiverem dinamismo espiritual, côo atalaias, evangelizando seus vizinhos e companheiros, servirão de apoio seguro à Igreja nesta conquista de almas.
Os crentes primitivos, acossados pelas perseguições, dispersaram-se, mas nunca ocultaram o seu testemunho de fé. Eram evangelistas, onde quer que estivessem. Formaram-se desse modo grupos e depois igrejas dinâmicas e missionárias. Tal realidade é um estímulo para os conservadores do Brasil que, mesmo dispersos, isolados, se forem zelosos de sua fé e amarem a causa de Deus, impulsionados pela fé operante, poderão ser valorosos companheiros na seara do Mestre. Concitamo-los a se conservarem firmes na fé, fiéis à sua igreja, cooperadores no Evangelho, evangelistas decididos. Entendam-se com os pastores dos seus campos para o trabalho ser coordenado e mais produtivo. Esse entendimento será salutar porque eliminará a idéia do isolamento. O Evangelho é um poderoso elo de entrelaçamento dos corações e faz coeso e forte o rebanho do Senhor. “O evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê.” (Rm 1.16).
4º. No setor econômico
A Igreja tem sua estrutura na fé em Jesus Cristo. Mas, como um organismo vivo e militante, ela tem necessidade de recursos econômicos. Os crentes reclamam visitação e ela se impõe por muitos motivos, mas esse trabalho é dispendioso. O dinheiro precisa ser posto a serviço da fé e do Evangelho. Pela fé deve entrar cada membro com sua cota liberal e regular para manutenção da obra. Se não fizer assim, o próprio crente pode tornar-se egoísta e escravo do dinheiro. Urge que todos sejam vigilantes nesse sentido.
Os membros das igrejas e todas as organizações devem reajustar-se para produzir mais com menos recursos econômicos, tendo vidas moderadas, aplicando bem i dinheiro, visando sempre o maior progresso da Igreja em suas realizações. Neste particular, um dos pontos fracos, toda a vigilância é pouca.
Gonçalves Viana, grande escritor e filólogo, discutindo o assunto, diz: “Alguns puritanos ensinam o desprezo do dinheiro e da riqueza. Mas essa lição nada aproveita, porque não é sincera, e contraria a própria natureza humana. Em vez de condenar o dinheiro, ensine-se o homem a usá-lo bem, e a conhecer-lhe os perigos e as vantagens… Convém pôr o dinheiro ao serviço do Espírito, em vez de com ele esmagar e aviltar o próprio Espírito. Torna-se forçoso ter sempre presente que a Civilização é obra do Espírito.” (“Ps. do Dinheiro”, p. 17-18). Nada mais se pode dizer no tocante à Igreja. Ela é obra do Espírito e da fé. Tudo deve ser posto ao serviço de Deus e do Espírito. O dinheiro também.
Não se pode impunemente malbaratar o dinheiro e deixar a Igreja sofrer as necessidades em sua marcha. Os irmãos são mordomos e não donos do dinheiro que Deus coloca sob sua guarda. Assumem graves responsabilidades diante de Deus e da Igreja aqueles que, porventura, usem o dinheiro para nutrir vícios e caprichos carnais com prejuízo da coletividade cristã e das nobres causas que ela esposa. Esperamos, distintos irmãos, que tal não aconteça. Contamos com a melhor boa vontade de todos no sentido de uma cooperação econômica, leal, sincera, decidida, em que nenhum falte com a sua contribuição liberal para uma causa que merece e reclama todos os sacrifícios. A Igreja tem grandes problemas, e precisa que todos os seus integrantes lhe emprestem seu valioso concurso financeiro. Só assim ela pode vencer as lutas em que está empenhada. É um privilégio participar de tão gloriosa obra.
5º. No setor da reciprocidade
Pensamos que as relações entre os irmãos, em parte, não andam bem aquecidas pelo amor recíproco. E sentimos necessidade urgente de afervorá-las. “Olhai, pois, por vós e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com o seu próprio sangue. Porque eu seu isto, que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não perdoarão ao rebanho.” (Atos 20.28-29). “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina” (1Tm 4.16). “Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles, porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não seria útil.” “Orai por nós, porque confiamos que temos boa consciência, como aqueles que em tudo querem portar-se honestamente.” (Hb 13.17-18).
Percebe-se logo que este apelo ao cuidado recíproco já não é apenas um anseio do Presbitério, mas uma exigência divina, visando a enriquecimento espiritual, à alegria e à felicidade de todos os irmãos e obreiros do Senhor. É imperioso que se acate com zelo essa determinação inspirada a favor de todos. Ninguém vive nem morre para si. Por isso desejamos que todos intensifiquem o desejo de velarem uns pelos outros em amor sincero, recíproco, procurando formar uma consciência de bem-estar e de felicidade coletiva e cristã. Fazendo assim, os irmãos, mesmo distantes, têm a sensação de cordialidade e de afeto.
Com os corações entrelaçados em amor e fé, vigiando com alegria uns em favor dos outros, os irmãos obterão plena consciência de sua força e de suas possibilidades. É assim que se edifica uma coletividade heróica. Esta vigilância mútua deve encaminhar-se no sentido de não se permitir que qualquer ressentimento se interponha à comunhão dos santos e aos interesses do reino. “Tomai também o capacete da salvação, e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus, orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no Espírito, e vigiando nisto com toda a perseverança e súplica por todos os santos.” (Ef. 6.17-18). Esperamos que este fervor espiritual entre os irmãos seja cada vez mais uma santa realidade, para quês sejam mais felizes e os seus trabalhos mais suaves e mais produtivos.
Distintos irmãos conservadores: trazemos à vossa lembrança estes pontos que reputamos da mais alta importância para a Igreja. A doutrina divinamente inspirada; a educação religiosa nos moldes bíblicos; a evangelização intensa e bem orientada; a economia em tudo a serviço da fé; e a reciprocidade na prática do amor e das virtudes cristãs são cinco pontos culminantes que a Igreja, com a ajuda de cada membro, precisa sustentar cada vez mais altos. Sobre eles desejamos que recaiam vossas atenções e vossa vigilância persistente. Vigiai e “fazei todas as coisas sem murmurações nem contendas, para que sejais irrepreensíveis e sinceros filhos de Deus, inculpáveis, no meio de uma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo.” (Fl 2.14-15). Tenhamos confiança e consideremos como uma força moral na vida esta afirmativa apostólica, que nos serviu de lema no ano findo – “Posso todas as coisas naquele que me fortalece.” (Fl 4.13)
Assinado: Antonino José da Silva – redator; Carlos Pacheco – presidente, Armando Pinto de Oliveira – vice-presidente, Reynaldo Gonçalves – 1º secretário, Dante Scorza – 2º secretário, Alceu Moreira Pinto – secretário permanente, Francisco Augusto Pereira Júnior, Manly Evans Harden, Alfredo Alípio do Vale, Virgílio Garcia Duarte, Adelino Rodrigues de Oliveira, Adelgício Ferreira de Morais, Jerônimo Martins da Silva, Pedro Martins de Aquino, Luiz dos Santos, José Fernandes Avelar, Benedito José Venâncio, Antônio Pires Corrêa, José Geraldo Góis, José Garcia da Silva.