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PASTORAL 1961

PASTORAL – 1961

Raphael Camacho

            Prezados irmãos em Cristo Jesus: “A graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, o amor de Deus, nosso Pai, a paz e a consolação do Espírito Santo sejam convosco e com todo o povo de Deus agora e pelos séculos dos séculos. Amém.”

            Cumpre-nos, antes de tudo, agradecer ao Senhor dos senhores e ao Reis dos reis que tem estado sempre ao nosso lado e, como  Bom Pastor , nos tem guiado às verdejantes pastagens de sua Palavra, e nos tem abeberado das mansas e refrigerantes águas vivas do seu amor, confortando-nos com a vara e o cajado de Sua providência e promessas. Após um ano e meio do nosso último encontro em Catanduva, podemos, alegres, repetir: “Até aqui o Senhor nos ajudou” (1Sm 7.12). A gratidão aflora aos nossos lábios como uma sincera expressão de nossas almas pelas grandes vitórias alcançadas, mas a nossa humilde confissão também brota espontânea pelo pouco que fizemos na imensa seara do nosso amado Mestre.

A Missão de Nossa Igreja

            Somos os pioneiros da obra fundamentalista no Brasil. Devemos manter sempre aceso o facho da ortodoxia doutrinária. Nossa missão se estende até à segunda vinda de Cristo. Não podemos ensarilhar as armas nem dar tréguas ao modernismo. Devemos permanecer como fiéis Neemias “fazendo com uma das mãos” a edificação da Igreja de Cristo, evangelizando os pecadores e instruindo os crentes, e “com a outra segurar as armas” para combater os modernos Tobias que procuram ridicularizar-nos, e os modernos Sambalates que zombam de nós e nos intimidam com falsas profecias ou nos convidam para o vale de Ono de seu “Unionismo”, para que deponhamos as armas e possam locupletar-se com o trabalho que nos custou anos de sacrifício. Estejamos alertas contra essas ciladas tobianas e sambalatianas. A Escritura nos proíbe de ararmos com boi e jumento ao mesmo tempo e de semearmos a nossa vinha com diferentes espécies de semente. Como Neemias, rejeitemos toda a cooperação daqueles que são coniventes com o modernismo e, consequentemente, com o mundanismo. Continuemos a defender a bandeira do fundamentalismo, da ortodoxia doutrinária, sem tergiversar, com aquele mesmo entusiasmo e coragem que nos levaram a hastear a bandeira conservadora no dia 11 de fevereiro de 1940. Temos u’a mística de que nunca poderemos nos envergonhar: – fidelidade à Palavra de Deus. A grandeza da nossa missão no seio do evangelismo brasileiro se mede por essa mística, por esse ideal. Sejamos fiéis, irmãos!

Voltemos ao Primeiro Amor

            Temos impressão de certo esmorecimento em nossas convicções fundamentalistas. Talvez seja pessimismo nosso. Cremos, porém, que nosso entusiasmo não é o mesmo de outrora. Cumpre-nos voltar ao zelo e entusiasmo dos primeiros dias, quando nossa Igreja, embora menos numerosa e mais pobre do que hoje, apresentava mais vigor espiritual. Havia mais união e camaradagem cristã entre nós. Sentíamos e sopesávamos melhor as nossas responsabilidades no seio do evangelismo brasileiro; nossos horizontes eram mais amplos e claros e por essa razão víamos mais nitidamente os nossos grandes privilégios, que nos animavam nesta gloriosa jornada conservadora. Se é verdade que devemos repelir toda e qualquer união e cooperação com os infiéis no campo doutrinário, não é menos verdade que devemos promover a união entre nós e manter estreita camaradagem com todos os companheiros que, ombro a ombro, lutaram conosco no alvorecer do nosso movimento fundamentalista. Vamos estreitar os laços de amizade, não só na ocasião das reuniões conciliares, mas em todas as ocasiões possíveis. Não poderá existir o ambiente de fidelidade aos nossos ideais, se não estivermos unidos pelos mais fortes vínculos do amor, aqueles laços que nos uniam nos primórdios do nosso movimento e que mantinham aceso o nosso entusiasmo no meio da luta. Vamos, pois, voltar ao primeiro amor, ao primeiro entusiasmo.

Os Modernistas Melhoraram as Suas Posições

            Estaremos sendo pessimistas? Não. Desde a comemoração do Centenário os modernistas têm melhorado muito as suas posições. A Aliança Mundial Presbiteriana aproveitou aqueles festejos para fortalecer os seus redutos. Que é esta Aliança? Um ramo do Concílio Mundial de Igrejas, visto que os oficiais daquela fazem parte, ao mesmo tempo, deste último, que congrega todo o mundo presbiteriano, exceto aqueles que, como nós, pertencem ao Concílio Internacional de Igrejas Cristãs.

            Como sabemos que os modernistas estão ganhando terreno no Brasil? Poderão vê-lo todos os que têm olhos para ver. Os Seminários e Faculdades teológicos estão adotando, como a última palavra em doutrina, o bartianismo ou neo-modernismo. Barth passou a ser um ídolo para muitos estudantes no Brasil. Que é Barth? Um falso profeta dos últimos tempos, que nega os fundamentos do Cristianismo histórico. Que poderemos esperar desses seminários bartianos e desses ministros formados nessas instituições bloqueados pelo modernismo? Alguns desses estudantes acham pouco o que aprendem aqui a respeito de Barth, e vão aos Estados Unidos a fim de aperfeiçoar-se na moderníssima Tubing, que é o Seminário de Princeton, onde Barth é um ídolo.

            Está fartamente comprovado que a Aliança Mundial Presbiteriana e o seu consorte Concílio Mundial de Igrejas, estão permitindo e se aproximando com filosofias anticristãs, os seus líderes, que têm visitado o Brasil, segundo parece, têm usado as igrejas para a infiltração de seus princípios subversivos. Isso ficou mais evidente ainda com a recente reunião da Aliança Batista Mundial no Rio de Janeiro.

            Iríamos longe em mencionar a verdade acima exarada: “os modernistas melhoraram suas posições no seio do evangelismo brasileiro.” Estes fatos nos convidam ao cumprimento da nossa missão, mantendo alertados os nossos irmãos, trombeteando pela imprensa e pelos púlpitos o perigo se aproxima. Voltarmos ao nosso primeiro amor e entusiasmo é uma premente necessidade, sem o que não poderemos fortificar e defender nossas posições fundamentalistas. A avalanche do modernismo precisa ser sustada com fortes diques fundamentalistas, antes que o comunismo, o fideísmo, o indiferentismo e todo esse cortejo de males subvertam a Igreja de Cristo.

Preparação de Líderes

             Jesus Cristo é o Líder por excelência – nosso único Líder. Depois Dele há líderes por Ele mesmo enviados e há líderes feitos pelos homens. Jesus doutrinou: “Rogai ao Senhor da seara que envie obreiros para a sua seara.” (Mt 9.38). Por desconhecerem esta verdade fundamental muitos indivíduos e organizações têm falhado. Têm sido os líderes humanos, homens endeusados, os que têm introduzido as maiores heresias no seio do cristianismo. Deixaram-se endeusar, porque não eram verdadeiros líderes enviados por Deus. Se o fossem não se teriam prestado ao endeusamento. No seio do Concílio Mundial e de todas as organizações modernistas, há muitos desses líderes feitos pelos homens, que negam a Divindade de Cristo. Seu sacrifício expiatório, sua ressurreição, sua segunda vinda, etc, etc… Julgam-se eles com mais autoridade do que o próprio Cristo. O movimento fundamentalista precisa de líderes, mas não desse tipo. Nossa I. P. Conservadora, como um ramo do fundamentalismo internacional, necessita de líderes dados por Deus em resposta às nossas orações. Esses líderes devem ser preparados, recebendo, além do curso teológico, uma orientação fundamentalmente conservadora denominacional, fazendo-os conhecedores dos imperativos históricos e dos motivos que deram origem à nossa Igreja, do contrário se irá diluindo aquele espírito que a originou.

            Precisamos de líderes que, à semelhança de Jesus, digam: “Não vim para ser servido, mas para servir.” Certa vez os israelitas rejeitaram a liderança de Samuel e escolheram um líder de acordo com as suas tendências humanas. Samuel levou o caso a Deus, que lhe disse: “Eles não te rejeitaram a ti, mas a mim.” Samuel é o tipo do verdadeiro líder: não se prestou ao endeusamento, fazendo a vontade do povo, mas mostrou a esse mesmo povo o erro que estava cometendo ao escolher um homem que, embora valente e cheio de dotes naturais, não passava de um pigmeu espiritual, do que deu provas pouco depois, na falta de discernimento e obediência às ordens divinas. Muitas igrejas e organizações têm caído no mesmo erro, dando origem a esse descalabro que se observa nos arraiais modernistas.

            A liderança é uma necessidade, mas deve ser exercida por homens de Deus, enviados por Ele e preparados adequadamente pela Igreja. Junto a Moisés vemos um Josué, que se prepara para substituir o primeiro; junto a Elias vemos um Eliseu, que continua a obra daquele; junto a Paulo vemos um Timóteo, um líder em preparo. Foram líderes, que se prepararam com outros líderes; Deus é eterno, mas os homens não o são: os Moisés, os Elias e os Paulos devem ir preparando os Josués, os Eliseus e os Timóteos para substituí-los na ocasião oportuna, para que não haja solução de continuidade na liderança. A causa fundamentalista no Brasil só será vitoriosa, se Deus enviar os líderes para exercerem a verdadeira liderança. Roguemos, pois, ao Senhor da seara que dote a nossa Igreja Conservadora de líderes, e que ela os reconheça, apontando-lhes os seus verdadeiros postos, depois de ministrar-lhes o sólido preparo intelectual e denominacional, de acordo com os imperativos históricos e teológicos que deram origem a sua existência.

Órgão Oficial

             Nosso povo deve estar bem informado do nosso movimento e da vida eclesiástica. O melhor instrumento de informação é a imprensa ou jornal. O ideal seria termos um jornal diário, que levasse informações aos lares conservadores. Isto é impossível, nem mesmo semanalmente poderíamos fazê-lo. Uma coisa, porém, é possível e deve ser feita sem perda de tempo: o nosso Órgão Oficial deve visitar, impreterivelmente, os lares conservadores todos os meses, em dia certo ou época relativamente certa. Se não puder apresentar-se ricamente trajado, apresente-se em trajes humildes, mas que o seja mensalmente. Não podemos continuar como até agora. Nossa folha demora tanto a aparecer, que nos faz esquecer que temos jornal. Alguma medida deve ser tomada neste setor. Vamos fazer propaganda do jornal, fazer que todos paguem as suas assinaturas pontualmente; que cada pastor seja em seu campo um ardoroso propagandista do Órgão Oficial. Tudo isto deve ser feito, sem sacrifícios, uma vez regularizada a sua publicação. É digno de encômios o exemplo da Igreja da Bíblia nos Estados Unidos: o “Christian Bacon” é publicado semanalmente com oito páginas, graças a uma equipe de homens e mulheres de boa vontade, que fazem todo o trabalho a tempo e a hora, sem qualquer ônus para o jornal. Nosso erro tem sido colocar essa responsabilidade sobre os ombros de um ou dois homens. Vamos imitar nossos irmãos americanos, formando uma equipe e descobrindo o líder para esse posto.

O Seminário

            Graças a Deus, temos uma escola de profetas à altura de nossas necessidades. Não deixa nada a desejar às suas congêneres do Brasil e leva vantagem às mesmas em que o ensino ministrado aos nossos estudantes é genuinamente bíblico, fundamentalista. Temos um número relativamente grande de estudantes. Está tudo muito bem, mas não basta. Quando pedirmos ao Senhor da seara mais obreiros para a Sua seara, devemos lembrar-nos também de que precisamos abrir nossas bolsas. . . Lembrar-nos de “que coisa mais bem-aventurada é dar do que receber”, de “que devemos dar-nos primeiro ao Senhor”. Devemos orar também pelo desenvolvimento econômico de nossa igreja, a fim de podermos oferecer aos nossos candidatos que concluem o curso teológico os campos em que devem trabalhar, mas não só campos, como também os recursos para pagar-lhes os honorários, nunca inferiores ao necessário para viverem com decência, a fim de que não tenham que recorrer a outras profissões. O crescimento da igreja deve ser normal, equilibrado. Há exemplo de igrejas constituídas quase só por ministros, que, em vez de crescerem diminuem. . . Uma coisa, porém, é certa: às igrejas que estão em pleno crescimento, nunca faltam pastores, nem recursos para mantê-los, porque elas recebem do Senhor os obreiros que Lhe pedem, e elas os enviam aos campos sentindo a responsabilidade de sustentá-los, senão com pingues ordenados, pelo menos com simpatia e amor, que são os dons mais preciosos e necessários.

Evangelização

            Queremos que a nossa Igreja cresça? Então devemos evangelizar. Este é o tema supremo da época em que vivemos, mas nem sempre se usam métodos adequados. Temos que voltar aos tempos apostólicos para aprender a evangelizar, usando o método da evangelização pessoal, que nunca falhou em resultados. Os grandes evangelistas Moody, Torrey e outros usaram esse método e até escreveram tratados sobre o assunto. Nossa Igreja não pode e não deve crescer com elementos vindos de outras igrejas, pois aqueles que não nos acompanharam no começo, muito menos nos acompanharão agora. Terá a nossa igreja orado a Deus pelos seus pastores a fim de que o Senhor desperte neles o zelo missionário? Estarão os crentes impressionados com este assunto? Não dirão muitos: “O pastor não vem visitar-nos . . . Não podemos fazer nenhum trabalho entre as pessoas estranhas…?” Isto não serve de desculpa. Podemos distribuir folhetos, evangelizar pessoalmente os nossos amigos, os companheiros de trabalho e, assim,  quando o pastor chegar, sentir-se-á animado a evangelizar, a pregar sermões de evangelização. Por ocasião da visita de Moody a Londres houve grande número de conversões, e o seu sucesso foi atribuído a duas crentes aleijadas, que não podiam ir aos cultos, mas que exerciam o ministério da oração, e que por muito tempo haviam orado por aquela visita do grande pregador. A falta de oração dos crentes é quase sempre a causa do fracasso dos pastores na obtenção de resultados na obra da evangelização, pois quem não pede não pode receber.

            Nossa igreja conta com muitos elementos capazes de fazer este glorioso trabalho. Chamar elementos de outras denominações é criar nos companheiros um complexo de inferioridade e, mais do que isso, é atribuir o sucesso do trabalho aos dotes humanos e não à oração. É uma questão de oração e mais nada; de ser o pregador usado pelo Espírito Santo, num ambiente adrede preparado pela oração.

Oração e Consagração

            Ao encerrarmos esta Pastoral lembramos aos irmãos de que a nossa oração é a célula mater da vida espiritual. Mias oração é sinônimo de maior consagração; e maior consagração é a garantia de maior crescimento da igreja e de aumento de seus recursos econômicos. Eis a garantia de um ministério mais numeroso, mais eficiente, mais entusiasta e mais fiel à doutrina. Vamos, pois, irmãos, orar, orar muito, confessando nossos erros, nossas falhas, nossa falta de amor a Deus e aos nossos irmãos. Como o grande Moisés, subamos ao pináculo do Sinai da comunhão com Deus, a fim de que a nossa face possa brilhar perante os pecadores, iluminando-lhes, com o nosso testemunho, o caminho da salvação; e nós, pastores, oficiais das igrejas, com todos os seus membros, possamos, revigorados pelo oxigênio espiritual, enfrentar as multidões com aquele poder expulsivo que o Mestre Jesus exerceu ao descer do monte da transfiguração. Acompanhemos o divino mestre ao monte e ao jardim de oração, e os homens, pelo brilho de nossa face, hão de dizer: “Eles têm estado com Jesus”.

Itapetininga, 17 de janeiro de 1961.

Ass. Raphael Camacho, redator, Jeiel Couto, presidente, Antonino José da Silva, 1º secretário, Carlos Pacheco, 2º secretário, Armando Pinto de Oliveira, Alceu Moreira Pinto, Haroldo Ricker, William Le Roy, Evans Harden, Horácio Pereira, Jair Soares Mesquita, Odilon Alves dos Santos, José da Costa Vallim, Virgílio Garcia Duarte, José Garcia da Silva, Antônio Arantes, Izaul Steffen, Nerval Rodrigues Frank, Josino Lourenço dos Santos, Pedro Martins de Aquino, Isaías Cândido de Lima.