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A Igreja Presbiteriana Conservadora do Brasil (IPCB) promoveu um encontro de líderes no ano de 1996 quando, dentre outros assuntos, discutiu-se acerca da liturgia. Este encontro produziu um documento que no ano seguinte foi ratificado pelo Sínodo em sua XII Reunião Ordinária como segue:

A liturgia são as diversas partes de que consta o culto a Deus. O culto, em conjunto ou público, é o encontro de Deus com o Seu povo. Crentes vêm a Seu convite e são bem-vindos à Sua presença. Deus fala através da invocação, da leitura da Palavra, do sermão e da bênção. Os fiéis respondem com cânticos, oração e confissão de fé. O culto litúrgico é o momento no qual se estabelece uma relação vertical – entre Deus e o adorador – diferenciando-se das demais reuniões do povo de Deus, como escolas dominicais, estudos bíblicos, palestras, debates, comemorações, etc., em que essa relação é essencialmente horizontal – entre uma pessoa e outra. O princípio regulador do culto é o estabelecido na Palavra de Deus e não nas intenções do adorador, ainda que sinceras, como bem afirma Calvino: ‘Deus não só considera infrutífero, mas também abomina totalmente tudo que não está de acordo com a Sua vontade’, e, ainda, como preceitua o capítulo XXI da nossa Confissão de Fé, itens I e II: ‘A luz da natureza mostra que há um Deus, que tem domínio e soberania sobre tudo, que é bom e faz bem a todos, e que, portanto, deve ser temido, amado, invocado, crido e servido de todo o coração, de toda a alma e de toda a força; mas, o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por Ele mesmo, e é tão limitado pela Sua própria vontade revelada, que Ele não pode ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens, sugestões de Satanás, nem sob qualquer representação visível, ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras. O culto religioso deve ser prestado a Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo – e só a Ele; não deve ser prestado nem aos anjos, nem aos santos, nem a qualquer outra criatura; nem deve, depois da queda, ser prestado a Deus pela mediação de qualquer outro, senão unicamente a de Cristo.’ O líder do culto litúrgico deve ser sempre uma pessoa qualificada para tal, conduzindo toda a liturgia no sentido de estabelecer o relacionamento vertical – entre Deus e o homem, e o homem e Deus. Tal dirigente deve conduzir todos os componentes da liturgia, fazendo convergir tudo para a parte central do culto: a mensagem. À luz desse princípio, devem ser evitadas algumas práticas inadequadas à liturgia, como: avisos, agradecimentos, testemunhos, destaques ou apresentação de visitantes, etc., práticas essas que devem ser feitas após o culto, ou, de preferência, antes do seu início. Devem ser evitados ainda os ‘espaços para apresentações especiais’ que representem liturgia paralela à do dirigente do culto. Os elementos essenciais da liturgia são os seguintes: chamada à adoração; contrição (confissão de pecados); cânticos de louvor e gratidão; oração intercessória; instrução (mensagem bíblica); dedicação (resposta à mensagem); bênção apostólica. Obs. Orações específicas devem ser oferecidas como parte ou preparação desses elementos essenciais.¹

Tomando como base este documento que representa a posição oficial da Igreja consideremos a respeito do Culto.

1. O que é Culto
De acordo com o documento supracitado “Culto, em conjunto ou público, é o encontro de Deus com o Seu povo. Crentes vêm a Seu convite e são bem-vindos à Sua presença. Deus fala através da invocação, da leitura da Palavra, do sermão e da bênção. Os fiéis respondem com cânticos, oração e confissão de fé”.
Dentro desta linha Vítor M. S. Garcia diz: “em essência o culto é um encontro de Deus com seu povo no qual se estabelece um diálogo: Deus fala à sua igreja por meio de sua palavra e a congregação expressa sua adoração ao Senhor mediante as orações, oferendas e hinos”.² Assim, podemos dizer que Culto é a resposta reverente e adoradora que só é possível em virtude da graça de Deus que nos capacita para tanto. No culto a alma que conhece a Deus deseja dialogar com ele; mesmo que este diálogo, por alguns instantes, consista num monólogo edificante no qual Deus fale por meio da sua Palavra. Em suma, o culto coroa a nossa relação de amor e obediência a Deus. Temos prazer em cultuar porque sentimos alegria em conviver com o Senhor. É preciso ainda destacar que o “culto litúrgico é o momento no qual se estabelece uma relação vertical – entre Deus e o adorador – diferenciando-se das demais reuniões do povo de Deus, como escolas dominicais, estudos bíblicos, palestras, debates, comemorações, etc., em que essa relação é essencialmente horizontal – entre uma pessoa e outra”.

Diante do exposto podemos concluir que o culto precisa seguir determinados princípios uma vez que ele é um encontro com o Deus santo e é uma resposta reverente. Ninguém além do próprio Deus pode determinar o modo adequando de se cultuar.

João Calvino ao final de uma aula sobre o profeta Daniel orou assim: “Deus Todo-Poderoso, visto que sempre e de maneira desgraçada nos perdemos em nossos pensamentos e, quando tentamos te adorar, não fazemos nada a não ser profanar a pura e verdadeira adoração de tua divindade e somos mais facilmente levados a superstições depravadas, permite, pois, que permaneçamos na obediência pura de tua Palavra e nunca nos desviemos para lado algum…”³

Nossa natureza pecaminosa nos inclina a buscar um culto que seja antes agradável a nós do que a Deus. É por esta razão que ao longo do tempo tantas coisas estranhas ao culto público foram e ainda são acrescentadas ao mesmo. Calvino disse: “… a regra que distingue entre o culto puro e o culto corrompido é a aplicação universal, a fim de que não adotemos nenhum artifício que nos pareça apropriado, mas atentemos para as instruções do Único que está autorizado a legislar quanto ao assunto. Portanto, se quisermos que Ele (Deus) aprove o nosso culto, esta regra, que Ele impõe nas Escrituras com o máximo rigor, deve ser cuidadosamente observada. Pois há duas razões pelas quais o Senhor, ao condenar e proibir todo culto fictício, requer que obedeçamos apenas à Sua voz: primeiro, porque não seguir o nosso próprio prazer, mas depender inteiramente da Sua soberania, promove grandemente a Sua autoridade. Segundo, porque a nossa corrupção é de tal ordem, que quando somos deixados em liberdade, tudo o que estamos habilitados a fazer é nos extraviar. E, então, uma vez desviados do reto caminho, a nossa viagem não termina, enquanto não nos soterremos numa infinidade de superstições…”4

Quando realmente nos conhecemos e conhecemos a Deus, sabemos que temos que depender totalmente da direção divina a fim de saber como cultuá-lo. Sobre isso a Confissão de Fé de Westminster diz o seguinte: “A luz da natureza mostra que há um Deus que tem domínio e soberania sobre tudo, que é bom e faz bem a todos, e que, portanto, deve ser temido, amado, louvado, invocado, crido e servido de todo o coração, de toda a alma e de toda a força; mas o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo e tão limitado pela sua vontade revelada, que não deve ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens ou sugestões de Satanás nem sob qualquer representação visível ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras”.5

Ao comentar este trecho da Confissão de Fé, A. A. Hodge diz: “Já vimos no capítulo i., que Deus nos deu nas Sagradas Escrituras uma regra de fé e prática infalível, autoritativa, completa e perspícua”. Que “todo o conselho de Deus, concernente a todas as coisas necessárias, para sua própria glória e a salvação, a fé e a vida do homem, ou é expressamente manifestado na Escritura ou pode, por consequência boa e necessária, ser deduzido da Escritura”. Por isso, necessariamente segue-se: visto que Deus prescreveu o modo como devemos aceitavelmente adorá-lo e servi-lo, é uma ofensa e um pecado contra ele que negligenciemos seu método ou, em preferência, pratiquemos o nosso próprio … visto, porém, ser depravada a natureza moral do homem, bem como pervertidos seus instintos religiosos e suas relações com Deus interrompidas pelo pecado, é por si mesmo evidente, que se faz necessária uma explícita e positiva revelação, não só para comunicar ao homem que Deus de forma alguma admitirá seu culto, mas também para prescrever e os princípios e os métodos segundo os quais este culto e ministério poderão ser prestados. Como demonstramos anteriormente à luz da Escritura … toda forma de culto próprio, de atos e forma de culto estabelecidos pelo homem, são abomináveis para Deus.6

Por tudo isso pode-se perceber quão sério é o culto que prestamos a Deus e quão necessário é que se atente para o ensino da Escritura afim de não incorrer em pecado uma vez que cultuar a Deus de uma forma inaceitável é tão pecado quando não o cultuar.

No próximo artigo prosseguiremos neste assunto abordando as partes que compõe o culto.

por Rev. Welerson Alves Duarte

Notas:
1 LIVRO DE ATAS. Volume 4, pp. 7, 9. (https://ipcb.org.br/indexdigesto/)
2  GARCIA, Víctor M. S., Música y Alabanza: In: Reveista Teológica, México: Vol. IX, no. 31-32, 1978, p. 47
3 Calvino, João, O Profeta Daniel: 1-6, São Paulo: Parakletos, 2000, Vol. 1, p.195
4 Calvino, João, The Necessity of Reforming the Church. Dallas: Protestant Heritage Press, 1995
5 A Confissão de Fé de Westminster. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 17ª Edição, 2011, p. 168
6 HODGE, A. A., Confissão de Fé de Westminster Comentada. São Paulo: Os Puritanos, 2ª Edição, 1999, p. 369.