PASTORAL 1941
15 de maio de 2023
PASTORAL 1940

PASTORAL DO PRESBITÉRIO

DA IGREJA PRESBITERIANA CONSERVADORA DO BRASIL

ÀS IGREJAS DE SUA JURISDIÇÃO

            Amados irmãos!

            A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus Pai e a Comunhão do Espírito Santo sejam sempre convosco. Amém.

            Resolveu o Presbitério, por sua lei constitucional, dirigir todos os anos às igrejas de sua jurisdição uma carta pastoral que traduza os sentimentos do próprio concílio, pelo qual é aprovada em seu inteiro teor durante a reunião.

            Esta primeira carta, amados irmãos, leva da parte do Presbitério, as fraternais saudações, os votos de prosperidade no trabalho em que estais empenhados e a exortação para vos manterdes firmes no ideal que vos congregou em torno da mesma bandeira.

A vitória que vence o mundo

            A fé religiosa, a vitória que vence o mundo, é o berço de todas as virtudes. Dom de Deus, constitue a razão de ser de vossa crença na revelação dos céus. Por ela vedes o invisível. E, assim, se levanta com força de imenso valor. A fé transporta montanhas. Foi ela que vos uniu nesta cruzada de ortodoxia, dando-vos alento para o testemunho de vossa ação. É pois, uma fé ativa, que vai firmar-se numa vontade ao mesmo tempo submissa e indomável: curva-se ante a sabedoria infinita do seu eterno Autor e Consumador, e reage contra as solicitações dissolventes da fraca sabedoria humana.

            Crescei em fé. Pedi, para isso, a graça do alto, e mantendo-vos vigilantes a fim de que os malefícios sorrateiros da infidelidade, da heresia e da apostasia não vos paralisem o movimento.

            Resististes até aqui. Inflamados de santo zelo pelos princípios básicos que foram a razão de ser de um passado glorioso; acolhestes-vos agora à sombra de um pendão que tem a pureza doutrinária como lema.

            Deus vos conduziu. Guarde-vos Ele, e dê-vos redobrada energia para o esforço na Santa peleja.

            E continuareis triunfando nessa vitória que vence o mundo.

Ortodoxia Conservadora

            Firmes na fé que tendes no Senhor Jesus Cristo, lembrai-vos de que servis num reduto que se fez intransigente defensor da fidelidade absoluta aos princípios tradicionais do presbiterianismo, inclusive o testemunho antimaçonico. Para manter a inexpugnabilidade dessa fortaleza, rompestes com uma situação que vos compelia a tolerar um afrouxamento doutrinário. Não quisestes isso, que seria mentir a solenes compromissos de um passado esplendido, e, então, tomastes desassombrada atitude, abandonando velhos amigos e cômodos aconchegos. Enfrentastes a tempestade da crítica estrábica, que é tolerante apenas em teoria, longe da prática, e começastes nova obra em que Deus já pôs, visível e nítido, o selo da sua aprovação augusta, a única que vos interessa.

            Mas, deveis prosseguir na mesma rota.

            Os membros fundadores da igreja Presbiteriana Conservadora de São Paulo, sem discrepância de um só, sempre entenderam que o respeito à ortodoxia que defenderam com valor e veemência, obriga a todos, ministros, oficiais e crentes, desde o maior até o menor. Nessa unânime convicção, deram o passo decisivo de 11 de fevereiro, data memorável em nosso arraial, no que foram secundados, imediatamente, por outras igrejas. E assim se mantiveram até hoje. Por isso, reveste-se de particular cuidado a admissão de novos membros à igreja, subtendendo-se a rigorosa indagação a respeito do que pensam sobre os dogmas seculares que a Confissão de Fé Presbiteriana encerra. Essa igreja faz questão de esclarecido entendimento e de firmeza nos seus componentes – de qualidade, pois, e não de quantidade.

            O presbitério ratificou inteiramente essa norma de conduta e a tomou como sua, arvorando-a em lei. Exorta-vos, pois, a que vos mantenhais todos nesse diapasão. Crescei, se possível, em número: o reino de Deus deve estender-se por toda a terra e concorrer para isso, é vossa incumbência e privilégio. Mas, crescei aferrados à rijeza dos propósitos que deram origem à nova denominação eclesiástica.

            É, pois necessário, para que uma só e completa ortodoxia seja o laço de união entre todos os membros da Igreja Presbiteriana Conservadora, que as seguintes medidas sejam adotadas:

            1) Instrução permanente, dos púlpitos e das escolas dominicais, acerca da importância estrutural da doutrina na vida religiosa, que é o princípio distintivo da Igreja Conservadora. É indispensável detida atenção ao estudo dos princípios de nossa Confissão de Fé.

            2) Preparo de todos os atuais presbíteros e diáconos no sentido de poderem aceitar inteligentemente, e não apenas pró-forma, os símbolos de Westminster. Esse preparo pode ser feito por meio de cursos baseados na Confissão de Fé.

            3) Formação de classes de catecúmenos em todas as igrejas, de modo a não se apresentar mais ninguém à admissão como membro sem ter passado por uma preparação doutrinária adequada.

            A Confissão de Fé não é inacessível  a quem quer que seja. O protestantismo prega o livre exame, sobre o argumento de que Deus não daria uma revelação necessária que não pudesse ser inteligentemente aceita por todos os seus filhos, até o mais humilde. Essa Confissão de Fé não é outra coisa senão a sistematização ou codificação da doutrina revelada. Logo, deve estar ao alcance de todas as mentes, não só das cultas e esclarecidas mas também das pequeninas e acanhadas.

            Provada a existência clara e insofismável dessas verdades na Bíblia, que é a Palavra de Deus, devem elas, em sua plenitude, ser aceitas e defendidas de forma incondicional e absoluta, sem a mínima restrição.

            Se o livre exame, que é a seiva do protestantismo, opuser dúvidas à intangibilidade dessas conclusões que a Igreja Conservadora adota e propaga, o exercício dessa mesma sagrada prerrogativa individual deve mover uma única atitude na consciência de cada um: deixar pronta, livre e espontaneamente a denominação eclesiástica, de cujos princípios dissentiu. É gesto de comezinha honestidade. Um compromisso assumido é sagrado. Vale mais do que a vida. Quem se filia, por vontade própria, a uma igreja, se submete a todos os seus preceitos. Quando não puder mais fazê-lo porque o livre exame lhe deu outras luzes, despede-se em paz.

            4) Essa mesma orientação precisa ser seguida na aceitação de elementos de outras corporações eclesiásticas. Só assim será mantida estrita coerência com o princípio distintivo da igreja. Nestas condições, é razoável que somente convém mudar de denominação por força de convicções doutrinárias. Fosse atendido apenas esse móvel, vantagens reais adviriam para o fortalecimento da cordialidade intereclesiástica. Torna-se claro que, em muitos casos, não se faz necessário mudar de igreja para assistir a cultos e, até, para cooperar estreitamente com igrejas irmãs.

            Ao se apresentarem ao Conselho pessoas que, portadoras de cartas demissórias, queiram transferir-se de outras denominações para a nossa, devem ser exigidas declarações doutrinárias expressas atinentes a cada caso, como sejam, sobre predestinação, antimaçonismo, batismo de crianças, governo de igreja, etc. Não sendo as respostas satisfatórias, é melhor que os candidatos permaneçam nas respectivas denominações.

            A Igreja Presbiteriana Conservadora tem alguma coisa própria, específica a realizar, no seio do evangelismo nacional. E há de fazê-lo, com o máximo rigor, sejam muitos ou poucos os seus membros, muitas ou poucas as suas igrejas locais. Se precisar, para viver, de afrouxar doutrinas, de suplicar lamurienta que os crentes permaneçam em sua grei, ou de tolerar dúvidas e titubeações, abrirá mão da própria existência e enrolará a bandeira que ora tremula, vencedora, no alto dos seus torreões de ideal e fé!

Ide, pois, e fazei discípulos…

            A vossa atividade, irmãos queridos, deve caracterizar-se, por um vivo espírito missionário. A Igreja Conservadora quer ser pujante e forte, nos alicerces de sua ortodoxia inabalável, para esse desideratum ser atingido, fugi ao mal do proselitismo. Crescer pela admissão de membros de outras denominações, obtidos pela propaganda dos nossos princípios não satisfaz inteiramente. É o que em História Natural se chama de crescimento por aposição, de fora para dentro. O que deveis esperar é o crescimento de dentro para fora, ou seja, por intussuscepção. Este é seres vivos, enquanto que aquele é dos minerais. A Igreja Conservadora surgiu para ser uma igreja viva. Para isso, são necessárias conversões de elementos estranhos ao meio evangélico, tocados pela graça de Deus, mediante a instrumentalidade do trabalho missionário.

            Cada membro da igreja, do maior ao menor, tem seu talento a movimentar. Forçoso é, pois, que não fique escondido, mas seja acionado por uma atividade incansável.

            Que honra indizível, para as criaturas, serem cooperadoras de Deus na obra de achar os escolhidos, dispersos no tempo e no espaço, para se incorporarem à Igreja de Cristo!

            Cumpri, pois, o vosso dever, no posto em que a Providência vos escalou, dando o máximo de vossas possibilidades.

            Os ministros tenham esmerado zelo no preparo de seus sermões, veículos, tantas vezes da graça divina para a conversão das almas. Redobrem o seu cuidado na obra estritamente pastoral, encarregados especiais de apascentar o rebanho. E procurem deixar a parte propriamente administrativa para os presbíteros, cuja missão é de preferência essa. Aos diáconos fique a tarefa de cuidar da obra de beneficência e de arrecadação.

            Que ótimo ensejo, na Igreja nascente, para dardes ênfase a essa especialização de funções, garantia segura de paz, eficiência e prosperidade.

 

Orai sem cessar

            E por fim, diletos companheiros, recebei a recomendação de orar sempre, com perseverança e fé. A oração é a chave que abre os inesgotáveis mananciais da graça divina. Movei sempre essa preciosa chave que o mesmo Jesus entregou aos seus discípulos. Pedi, em súplicas de ânimo sincero e humilde, ao Pai de amor as bênçãos de que careceis. Pedi-as, sobre tudo para o mundo convulsionado numa tremenda luta fratricida; para a nossa pátria bem amada a fim de que Deus a favoreça sempre com a paz e progresso; para a nossa jovem igreja, cuja finalidade e crescimento devem ser os nossos anseios, e para a igreja de onde saímos, nunca esquecida em nosso afeto filial.

            Os tempos são dolorosamente tristes. As potências malignas, numa arrancada tremenda, querem abalar as mais sólidas reservas espirituais que os homens se abeberem – as do amor que deveria ser nossa moeda corrente. É o prenúncio do fim!

            Vigiai e orai, portanto, para que, quando o Senhor vier, nas nuvens dos céus, vos encontre firmes, a postos, fazendo sua bendita vontade!

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            E seja dada toda a honra e toda a glória, agora e pelos séculos dos séculos, a Deus-Pai, Deus-Filho e a Deus-Espírito Santo. Amém.  S. Paulo, 29 de junho de 1940.

            Assinam:

            Rev. Bento Ferraz

            Rev. Rafael Pages Camacho

            Rev. João Rodrigues Bicas

            Rev. Alfredo Alípio do Vale

            Rev. Armando Pinto de Oliveira

            Presb. Herculano Ferraz de Almeida – (Jaú)

            Presb. Alberto Palma – (Pádua Dias – Minas)

            Presb. Efraim Ferraz da Silveira – (Iacanga)

            Presb. Isaías Cândido de Lima – (Pedra Branca)

            Presb. João Luiz de Almeida – (Lauro Penteado)

            Presb. Manoel Pereira Fagundes – (Glicério)

            Presb. Afonso da Silva Ramos – (Cambará)

            Presb. Horácio Borges de Oliveira – (Braúna)

            Presb. Deolindo de Souza Morais – (Jacarézinho – Paraná)

            Presb. Flamínio Fávero – (S. Paulo)