PASTORAL 1942
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PASTORAL – Junho – Julho de 1941
Amados em Cristo:
Pela misericórdia de Deus nosso Pai, pela graça de Nosso Senhor Jesus Cristo que por nós intercede nas alturas do céus, pela obra maravilhosa do Espírito Santo que nos orienta e ensina, eis-nos chegados, felizes e triunfantes, ao fim de nossa primeira jornada e ao limiar de mais um ano eclesiástico.
Não foi fácil a caminhada. Trechos ensolarados e floridos houve no percurso, mas também houve obstáculos a transpor, despenhadeiros a contornar e furnas a atravessar.
Ensolarado foram aqueles trechos que caminhamos, humildes, com os olhos fixados nos céus, entregando-nos, por inteiro, à direção da providência divina. Obstáculos, despenhadeiros e furnas, as tentações que nos assaltaram, a condescendência com as nossas próprias fraquezas e os momentos em que as paixões nos dominaram, interpondo-se entre nós e a orientação divina. Ali, como aqui, sentimos que o braço do Senhor nos amparou, convertendo em bênçãos inefáveis as mais dolorosas experiências.
Sejam, pois, as nossas primeiras palavras, nos umbrais deste novo ano, a expressão do reconhecimento de nossas faltas; uma súplica humilde de perdão e, acima de tudo, um preito de agradecimento ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo que, pacientemente, nos conduziu até este momento.
Neste espírito, voltemos o olhar para o curto passado, procurando descobrir, entre a obra feita, o que importa reafirmar, corrigir ou melhorar. Estendamos o olhar para o futuro e marchemos resolutos à conquista das magníficas realizações a que nos propusemos em nossa arrancada memorável.
EXPANSÃO – Durante o nosso primeiro ano eclesiástico tivemos de atender aos apelos que nos chegaram de várias direções. Esse fato que nos proporcionou, louvado seja Deus, rápida e apreciável expansão, impossibilitou o nosso missionário de realizar a obra evangelizadora que lhe está, especificamente, atribuída.
É mister que, neste novo ano, passando o período inicial das mutações; bem definidas as atitudes e posições das comunidades locais, natural e inevitavelmente atingidas pelos acontecimentos que deram causa à nossa existência, libertados, portanto, deste processo quase compulsório de crescimento por aposição, entregamo-nos, de corpo e alma, à obra missionária. A nossa Igreja não quer crescer por força da adesão de entidades pertencentes à outras Denominações.
Aspiramos a uma expansão que seja o fruto do nosso próprio trabalho evangelizador. Que congregações locais ou presbiteriais se convertam em igrejas; que se crie um campo missionário extenso, constituído de localidades onde não existam igrejas evangélicas; que o missionário presbiterial seja insistentemente convidado pelos pastores ou pelos conselhos para a realização de campanhas de evangelização em suas igrejas; eis o que desejamos, e só o que desejamos seja feito no sentido do nosso crescimento.
PREGAÇÃO E ORTODOXIA – A nossa pregação seja pautada rigorosamente pela nossa ortodoxia.
Aos pecadores, falemos francamente no pecado e nas suas conseqüências humanamente irremediáveis, encaminhando-os para a Cruz do Redentor, único tema da pregação apostólica, e que deve ser o único tema da nossa pregação.
Não tenhamos reservas em profligar o erro, condenar o mal e denunciar as fraquezas humanas. Empenhemo-nos, porém, na obra construtiva, dentro de uma conduta serena e bem orientada, evitando molestar os indivíduos que desejamos libertados desses erros e fraquezas. Organizemos e orientemos campanhas contra os vícios, hábitos, ou costumes que, como expressões do pecado, atentam contra a dignidade do homem e da família, quer no seio da Igreja, quer na sociedade.
Consagremos redobrado esforço à nossa preparação doutrinária, congregando-nos assiduamente em torno da Palavra de Deus, nos cultos e na Escola Dominical; aprimoremos os nossos sermões e estudos bíblicos; vulgarizemos os catecismos e a Confissão de Fé de Westminster e demos, expressão nitidamente denominacional a todo o nosso trabalho doméstico.
Os Conselhos dêem cumprimento rigoroso ao que dispõe a Constituição e Ordem sobre a aceitação de novos membros e recepção dos que vierem de outras Denominações, evitando, quanto possível, a penetração de elementos que, embora possuidores de excelentes qualidades, sejam portadores de idéias exóticas ou contrárias aos nossos símbolos doutrinais.
SANTIFICAÇÃO E DISCIPLINA – Grande é a responsabilidade da nossa Igreja quanto à santificação e disciplina. Importa provar que “não seguimos o formalismo religioso que orienta a personalidade para a simples aceitação intelectual de determinadas verdades, que permanecem, todavia, estéreis e improdutivas.”
A “Fé Salvadora”, viva e eficaz, que se consubstancia, pela iluminação do Espírito Santo, na convicção doutrinária, é a mesma que nos faz participantes da vida espiritual que há em Cristo. Não é possível, pois, haver essa profunda apropriação de verdades doutrinárias, como princípios dominantes da vida individual, sem que haja a correspondente expressão desses princípios nas atitudes e conduta dessa vida. “Pelos seus frutos os conhecereis”, disse Nosso Senhor Jesus Cristo. “A fé sem obras é morta” disse o apóstolo S. Tiago.
Incumbe, pois, aos Conselhos, zelar pela pureza do rebanho, aplicando medidas disciplinares sempre que se tornarem precisas, afastando da Mesa do Senhor, amorosa, mas decididamente, os que dela se aproximam com mãos impuras ou profanas. A disciplina aplicada com nobreza, e em função construtiva, edifica e corrige os escolhidos de Deus, atingidos pelas fraquezas e tentações, e afasta os que se iludem ou procuram iludir quanto aos seus propósitos no seio do rebanho.
De uma ou de outra forma, ela é de grande proveito espiritual, quando aplicada com elevação, sobriedade e amor.
DIA DO SENHOR – Que os púlpitos, os presbíteros e os professores das Escolas Dominicais falem insistentemente do dever de consagrar inteiramente ao Senhor o dia dominical, cuja guarda e santificação, constituindo uma das santas ordenanças cristãs, é o mais rico repositório de bênçãos espirituais com que Deus nos enriquece na peregrinação da vida.
Habituemo-nos a considerar, de preferência, o aspecto positivo do assunto, exaltando perante a Igreja os propósitos que, sem dúvida, presidiram a instituições da ordenança, que foram os de afastar o homem das preocupações da vida material, afim de proporcionar-lhe bênçãos especiais no descanso do corpo e na edificação da alma, como se fora um antegozo dos prazeres celestiais.
Seja a mocidade levada a compreender que a profanação do Dia do Senhor, sobre ser a quebra de um mandamento expresso de Deus, revela uma grande insensatez, pois é a troca das bênçãos inefáveis deste dia, pelos prazeres vãos e transitórios da vida. Assim ela entenderá melhor que o “sábado foi feito por causa do homem” e fará espontânea abstenção de tudo aquilo que lhe perturbe o gozo integral das bênçãos desse dia, não sendo mister vive tangida pelas proibições.
FRATERNIDADE – Tão importante é o sentido da fraternidade no seio da Igreja, que as Santas Escrituras a instituíram como critério para aferir o amor para com Deus. “Aquele que não ama a seu irmão a quem vê, como amará a deus a quem não vê?”
A expressão coletiva desse amor é o vínculo de mansidão que deve presidir a vida em sociedade. Reconhecendo que a Igreja é constituída de homens e que todo homem tem as suas arestas, só há uma meio de evitar os atritos, preservando a cordialidade: – a adaptação dos nossos temperamentos diversos num ambiente de boa vontade recíproca.
Haja entendimento e perdão entre os crentes e a fraternidade jamais será comprometida.
Tão grandes e tão complexos soa os problemas gerais da Igreja; tão poucos são os obreiros que a ela se dedicam integralmente; e tão limitado é o tempo de que dispomos, que seria crueldade desviar a atenção dos diretores da Igreja da obra ingente a que se acham entregues, para a solução de casos pessoais que poderiam ser evitados. E que dizer dos casos criados pelos próprios diretores?. . .
UNIDADE – Importa não perder de vista o sentido de unidade da nossa Igreja. Se nos deixarmos absorver pelos problemas locais, relegando à segunda plana os interesses da Federação, determinaremos, com essa atitude, a desagregação dos nossos esforços, consequentemente, o esfacelamento da obra geral.
Impossível seria, dessa forma, a consecução dos altos objetivos a cuja conquista nos propusemos. Poderíamos ter igrejas locais entregues a uma atividade constante e nobre, mas essas pequenas comunidades viveriam restritas a raios de ação limitadíssimos, e, sem uma representação nacional, seriam incapazes de ocupar, nos diversos setores da Obra Evangélica, o lugar que pretendemos entre as irmãs que, dignamente, militam em nossa pátria.
De resto, o futuro, a consistência, a estabilidade do trabalho local, serão decorrentes da fidelidade com que nos entregamos à obra geral. – Onde pastores se não houver obra educativa? Onde a possibilidade de expansão de expansão e defesa de nossas idéias , sem um órgão de imprensa? Onde o testemunho prático de solidariedade no sofrimento humano, sem instituições e fundos especializados, ou sem o nosso concurso à grandiosa obra de benemerência que vem sendo feita pelas igrejas irmãs?
Extenso é o território da pátria; inúmeras as localidades onde nenhum trabalho missionário se faz com regularidade e perseverança. É mister que os nossos esforços de propaganda não fiquem limitados ao âmbito estreito do trabalho local, mas alcancem uma realização de grande amplitude e intensidade, na atuação constante do Missionário Presbiterial. Só assim daremos provas da exata compreensão do moto que escolhemos para o primeiro ano de nossa vida eclesiástica, a súplica do vidente de Patmos: “Vem, Senhor Jesus!”
Eis o que deve mover, no seio de cada igreja local, ministros e presbíteros, diáconos e professores, homens e mulheres, jovens e crianças, a uma permanente e intensa preocupação pela obra geral da Igreja. E essa preocupação deve traduzir-se nas orações particulares, nas orações públicas e na contribuição liberal e constante para essa obra.
VOCAÇÃO MINISTERIAL: – O grande problema da nossa Igreja é a falta de obreiros. Desdobram-se em atividade constante os poucos que a Providência Divina nos concedeu, mas, à proporção que a seara se estende, mais se acentua a impossibilidade de atender, com tão poucos trabalhadores às necessidades da sementeira.
Vários são os recursos de que se servem os homens para congregar elementos em torno das empresas ou empreendimentos.
Acenam-lhes com a glória, com o conforto, com o fausto e, movidos pela ambição, entregam-se trabalhadores à faina, mesmo nos misteres mais árduos e perigosos.
Não assim na Igreja de Cristo.
Não há como aproveitar os homens movidos pelo interesse ou pela ambição, porque o ministério é um apostolado. Sua glória transcende à glória do mundo e, por isso mesmo, é quase sempre, inexistente nesta vida; seu conforto é profundamente íntimo, mas não se exterioriza em elementos materiais; suas riquezas se constituem de valores celestiais, que não encontram câmbio ou retribuição nos mercados do mundo.
Levar, pois, para dentro das almas juvenis, neste século materialista, a fascinação por esses valores intangíveis, não é obra humana. E Jesus ensinou isso mesmo quando apontou à sua Igreja, por meio dos seus discípulos, a única solução para o problema: “Rogai ao Senhor da Seara que mande obreiros à sua Seara.”
Rogai! Rogai! Rogai! É o que cumpre fazer. Roguemos em nossos lares, em nossas orações mais íntimas, nas Escolas Dominicais, em nossos cultos públicos. Roguemos sempre. Onde for possível, consagremos, no decorrer do ano, uma semana inteira a concertos especiais de súplicas nesse sentido. Os púlpitos preguem constantemente sobre os grandes privilégios do Santo Ministério; e os ministros dêem exemplos edificantes aos moços, afastando-se dos interesses desta vida. As igrejas dignifiquem os seus serventuários, honrando-lhes o sagrado ofício, e todos procurem amparar e estimular as vocações que despontem no seio do rebanho.
FINANÇAS: – não há negar que a liberalidade nas contribuições para a Causa do Senhor é índice seguro de espiritualidade. Eis porque reservamos poucas palavras para este assunto, no final quase desta nossa Pastoral. Seguros da liberalidade, uma vez obtida a aquiescência da Igreja para nossas recomendações anteriores, só nos cumpre pedir a metodização no serviço de ofertas.
Procurem as igrejas locais organizar as suas finanças por meio de contribuições sistemáticas, se possível mensais, de modo a assegurar o sustento pastoral, o compromisso orçamentário presbiterial e a manutenção do culto.
Levantem, com interesse, coletas especiais para o nosso Órgão Oficial, para a Obra de Beneficência e para o nosso Plano Educativo, obedecendo rigorosamente o que, a respeito, prescreve o Calendário da Igreja.
Importa encarar também o aspecto da contribuição na obra educativa da Escola Dominical, incluindo direta e pessoalmente, os alunos mais adiantados, sempre que possível, no rol dos contribuintes e fazendo constantes apelos, no seio das classes, em favor dos fins gerais.
VIDA DEVOCIONAL: – Queremos coroar esta carta com um apelo final para a oração. Nada, absolutamente nada do que acima se recomendou e se preconizou terá o seu cumprimento; nenhum dos recursos apontados será utilizado com eficiência se a Igreja não estiver mergulhada e embevecida no espírito de devoção.
Procuremos ter uma ideia exata da oração, lembrando-nos sempre de que ela deve ser, para nós, nesta luminosa Dispensação da Graça, menos um veículo para os nossos pedidos, do que a expressão da nossa humildade, do nosso amor, do nosso desejo, do nosso anseio.
Levantem-se nos lares o altar da oração, que é o Culto Doméstico; recolham-se os irmãos a exercícios espirituais constantes e metódicos; congreguem-se as igrejas em constantes concertos de oração; vivamos, enfim, permanentemente, na presença de Deus, como indivíduos e como Igreja, e não haverá problemas insolúveis, nem casos a lamentar ou a resolver.
* * *
O mundo atravessa um período histórico de grande significação religiosa e de gravíssimas consequências. A Igreja não pode viver insulada, e deve simpatizar-se com a humanidade nesta hora amarga e tenebroso. Nossos irmãos que habitam as regiões assoladas pela guerra, devem estar experimentando as mais dolorosas provações nestes dias tristes e calamitosos.
E, no mais, irmãos queridos, fixando os olhos no céu, aguardemos jubilosos a vinda de Nosso Bendito e Adorado Salvador, cujos esplendores já se vislumbram das brumas da hora que passa.
E bendita seja a Fé, dádiva imperecível do amor de Deus, que nos proporciona essa visão luminosa, enquanto a humanidade se debate, desesperadamente, entre os problemas oriundos de sua própria insânia.
“O Deus de paz que ressuscitou dos mortos pelo sangue do testamento eterno a Jesus Cristo, Senhor nosso, Grande Pastor das ovelhas, vos faça idôneos em todo o bem, para que façais a sua vontade, fazendo Ele em vós o que seja agradável aos seus olhos, por Jesus Cristo, ao qual é dada a glória pelos séculos dos séculos.” (Hebreus 13.20-21).
Amém!
São Paulo, 30 de junho de 1941
Flamínio Fávero – presidente
Bento Ferraz
- P. Camacho – 1º secretário
João Rodrigues Bicas – 2º secretário
Armando Pinto de Oliveira
Alfredo Alípio do Vale
Roberto Heckt
Jonathas Pereira Coutinho
Joaquim Ferreira Cardim
Manoel Pereira Fagundes
João Luiz de Almeida
Horácio Pereira
Antônio Arantes
Olímpio Pereira Barbosa
Azor José Rodrigues
Amávio J. Rosa
Abílio Costa Ribeiro