PASTORAL 1980
28 de junho de 2017PASTORAL 1994
28 de junho de 2017PASTORAL 1983
PASTORAL 1983
Amados irmãos:
“Que a graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós.” (II Cor. 12.13)
Quis a misericórdia de nosso bondoso Deus que a Igreja Presbiteriana Conservadora, à qual pertenceis, vencesse mais um triênio na sua trajetória vitoriosa e abençoada, sob a bandeira do conservantismo doutrinário. 43 anos são decorridos desde o final da controvérsia doutrinária no seio da Igreja mãe, da qual resultou a formação desse novo ramo da Igreja de Cristo. É mais uma vez o momento para a reflexão, para a reafirmação de princípios, para a retomada de propósitos, para a delineação de novos planos para o futuro. É, portanto, mister que lancemos nossos olhares para o passado, para o presente e para o futuro, a fim de que conheçamos bem nossa herança, verifiquemos nossa condição atual e compreendamos nossas possibilidades.
FIRMEZA DOUTRINÁRIA
Jamais devemos perder de vista nossa origem. Somos uma igreja que surgiu no seio do evangelismo nacional em função de uma causa: a da ortodoxia. Temos a denominação de “crentes presbiterianos conservadores”. O primeiro adjetivo nos qualifica como membros da grande família dos que foram redimidos pelo sangue do Senhor Jesus Cristo e a Ele procuram seguir. O segundo nos coloca ao lado daqueles que têm a Fé Reformada, que professam o Calvinismo como sistema e modo de interpretação das Escrituras Sagradas. O terceiro, por sua vez, identifica a nossa mística, a de sermos uma igreja rigorosamente ortodoxa.
Essa mística está muito bem expressa no item 3 da Introdução Geral de nossa Constituição e Ordem, que diz: “A Igreja tem como princípio denominacional o reconhecimento de que a adoção rigorosa e a defesa intransigente das doutrinas reveladas nas Santas Escrituras e sistematizada nos Símbolos de Fé por ela aceitos, constituem a base fundamental de toda a vida cristã, o motivo único e permanente de sua pregação e o caminho natural de conduzir o homem à salvação em Cristo. É, pois, uma igreja rigorosamente ortodoxa; e, por força disto, declara incompatível com a profissão de fé evangélica, a aceitação de qualquer sistema filosófico ou religioso que pretenda atingir os mesmos objetivos do Cristianismo, por outros meios que não sejam apenas os estabelecidos pela Palavra de Deus. Dentre os sistemas filosóficos condenados pela Igreja, destaca-se a Maçonaria, a cujas organizações não devem pertencer os seus membros.”
DOGMATISMO SEM SECTARISMO
Esta é a nossa posição denominacional – dogmatismo nas doutrinas fundamentais da Palavra de Deus. Todavia, esta posição está longe de representar um apego àquele tipo de dogmatismo apenas formal, sem vida, que leva a um sectarismo presunçoso e atrofiante. Não foi esse o espírito que caracterizou os ideais de nossos lideres de 1940. Isto é claramente visto nas palavras do “Manifesto da Igreja Presbiteriana Conservadora de São Paulo às Igrejas Evangélicas do Brasil”, de 18 de fevereiro de 1940, documento esse que serviu para delinear a posição da Igreja que deu origem à denominação, perante o mundo evangélico brasileiro. Sobre a posição doutrinária da Igreja, diz o manifesto: “Esta nova Igreja é, sem dúvida, o fruto de um acendrado apego à doutrina. Não seguimos o formalismo religioso que orienta a personalidade para simples aceitação intelectual de determinadas verdades, que permanecem, todavia, estéreis e improdutivas. Longe disso, reconhecemos a exata posição do dogma na vida religiosa e a imprescindível necessidade da defesa da doutrina como uma das condições essenciais para o estabelecimento daquela vida. Este é o real ensino de Cristo.
Assim sendo, queremos que a nossa posição no seio do Evangelismo Nacional se caracterize por uma atitude construtiva e de defesa aos princípios fundamentais do Cristianismo, tais como entendem a Confissão de Fé e os Catecismos de Westminster (tradução brasileira).
Pregando ardorosamente o Evangelho de Cristo aos pecadores, como sendo este Evangelho (a doutrina) o único meio de conduzir os homens a Cristo – o Salvador, cerraremos fileiras em torno da ortodoxia e montaremos guarda, sempre alerta, à sua conservação integral. Por isso, queremos ser chamados ser chamados de presbiterianos conservadores.
Não inclue, a denominação que escolhemos para caracterizar a nossa humilde Igreja, a idéia de que os demais ramos do protestantismo, que dignamente militam em nossa Pátria, não defendem, com firmeza, a integridade do dogma. Essa denominação tem o objetivo de afirmar a nossa origem histórica; afirmar que nascemos de um movimento de defesa à ortodoxia. É, além disso, a condenação de um programa que nos impusemos. É, mais ainda, o levantamento de uma mística em torno da qual queremos formar a alma coletiva deste pugilo de idealistas que pretendem ocupar um lugar no grande exército de Cristo.
É assim que queremos ser compreendidos. Tudo faremos para merecer essa compreensão.” (“O Presbiteriano Conservador”, de 28 de março de 1940, Ano I, nº 1).
O espirito que caracterizou a primeira Igreja Presbiteriana Conservadora a ser organizada, e que moldou o pensamento e a posição da federação eclesiástica que pouco depois veio a ser constituída com o mesmo nome, naquele mesmo ano de 1940, pode-se ver claramente, foi o dogmatismo atuante, positivo e frutífero, não o do simples formalismo religioso ou doutrinário. Não se pretendeu isolar a Igreja como ramo único da videira, ou membro único do corpo. Pretendeu-se, pelo contrario, constituir um ramo legítimo da Igreja de Cristo, o mais puro possível, para atuar através dele em todo o corpo e cumprir com ele a missão imprescindível de frutificar. Rigor na ortodoxia, sim! Sectarismo, não! Somos desde 1940 uma igreja fundamentalista, fundamentalismo esse que a pastoral da primeira reunião do Presbitério da Igreja Presbiteriana Conservadora do Brasil, em 29 de junho de 1940, denominou de “Ortodoxia Conservadora”. Essa posição é esperada e exigida não só de nossos ministros e presbíteros, mas igualmente de cada crente. Tem ela, pela graça de Deus, sido mantida fielmente até aqui, e o será enquanto a Igreja for vigilante e zelosa de sua origem histórica.
VIGILÂNCIA
A vigilância tem sido o segredo dessa firmeza à posição de origem. Cumpre, portanto, que continuemos vigilantes. Na pastoral do 1º Presbitério Conservador, já mencionada, três medidas são sugeridas para a manutenção dessa firmeza: “1) Instrução permanente dos púlpitos e das escolas dominicais, acerca da importância estrutural da doutrina da vida religiosa, que é o princípio distintivo da Igreja Conservadora. É indispensável detida atenção ao estudo dos princípios da nossa incomparável Confissão de Fé. 2) Preparo de todos os atuais presbíteros e diáconos no sentido de poderem aceitar inteligentemente, e não apenas pró-forma, os símbolos de Westminster. Esse preparo pode ser feito por meio de cursos baseados na Confissão de Fé. 3) Formação de classes de catecúmenos em todas as igrejas, de modo a não se apresentar mais ninguém à admissão como membro sem ter passado por uma preparação doutrinaria adequada.” (“O Presbiteriano Conservador” , julho de 1940, Ano I, Nº 5).
Tivesse a Igreja, já naquele primeiro ano, o seu Seminário, e sem dúvida as recomendações maiores seriam a respeito da instrução teológica a ser dada aos futuros ministros. Uma igreja só continua doutrinariamente pura quando o ensino que é ministrado aos seus futuros pastores for puro. O Seminário, visto sob esse prisma, é a vertente de onde sairá a água cristalina da ortodoxia cristã, ou então, a fonte de todas as correntes poluídas do liberalismo, da neo-ortodoxia, do libertacionismo e de todas as filosofias e doutrinas humanas. Devemos ser gratos a Deus por termos um Seminário onde a Palavra de Deus é crida e honrada como tal, onde a vida cristã é enfatizada, onde as doutrinas fundamentais das Escrituras soa ensinadas na sua simplicidade e profundidade, e onde o princípio reformada da soberania de Deus é exaltado.
Louvamos a Deus por ter concedido a essa Igreja a graça de manter o espírito de fidelidade doutrinária daquele primeiro “pugilo de idealistas”. Que essa posição, todavia, nunca nos venha a encher de vanglória ou presunção diante dos demais ramos da Igreja de Cristo, especialmente diante daqueles que hoje, mais do que no passado, estão se deixando levar por “espíritos enganadores” e “doutrinas de homens”. Pelo contrário, que Deus nos dê um contínuo espírito de temor e de humildade diante de Sua presença, de completa dependência da Sua soberana graça e de profundo respeito à Sua Santa Palavra.
UNIDADE DE PENSAMENTO E PROPÓSITOS
Não devemos nos esquecer, todavia, de que precisamos de vigilância não só em relação à posição doutrinária, mas também quanto à unidade denominacional. Somos uma denominação regida pelos princípios do Presbiterianismo, onde impera a norma democrática de que as decisões dos concílios devem ser obedecidas por todos. Essa regra é a condição primordial para a unidade e paz da Igreja. Cremos que os concílios, embora flexíveis, são os órgãos pelos quais Deus manifesta a Sua vontade para com a Igreja, como organização. Por esta razão, as decisões que eles tomam, dentro de sua esfera de competência , precisam ser acertadas.
Foi assim que a Igreja primitiva viu as decisões conciliares – como um parecer do Espírito Santo. Em Atos 15.28, a decisão do Concílio de Jerusalém (o primeiro Presbitério da Igreja primitiva) é atribuída à obra do próprio Espírito, quando é dito: “Pois pareceu bem ao Espírito e a nós não vos impor maior encargo além destas cousas essenciais.” No v. 6 lemos que a questão fora examinada pelos apóstolos e pelos presbíteros, em reunião.
Nossas preferências ou opiniões pessoais precisam estar subordinadas, quer como ministros, presbíteros, diáconos ou membros, aos interesses maiores e de caráter geral da denominação. Para haver crescimento harmônico e uniforme de todo o corpo eclesiástico, é mister que os interesses gerais da denominação tenham prioridade sobre os locais. Nenhuma igreja local será bem estruturada se todo o corpo denominacional não estiver bem estruturado. Para citar apenas exemplo, nenhuma igreja local terá pastor se não houver seminários para formá-los. Cumpre que cada igreja local e congregação presbiterial assumir a sua parcela de responsabilidade na manutenção das Instituições da Igreja, para que algumas poucas não fiquem sobrecarregadas pela omissão da demais. Temos presbitérios deficitários que precisam ser mantidos pelos mais fortes. As instituições sinodais tais como o Seminário, órgão oficial, caixa de sustento dos jubilados, etc., estão a exigir mais fidelidade de todos os setores da seara conservadora. Juntemos todas as nossas forças e coloquemos todos o coração no ideal comum! Pensemos concordemente!
DILIGÊNCIA E ZELO
Em Romanos 12.6-8 lemos sobre a diversidade dos dons. A Igreja é servida através dos diversos dons que o Espírito lhe dá. A ênfase, porem, está não propriamente nos dons, mas no modo de exercê-los. Deus requer diligencia e dedicação de todos os Seus filhos, no exercício de suas funções. Sejam os deveres de um membro da Igreja para com a sua comunidade, sejam os deveres dos diáconos, dos presbíteros ou dos ministros, de todos é exigida a dedicação. Fidelidade no uso do dom, é a palavra de ordem! Particularmente aqueles que estão em posição de liderança, espera-se que sejam o exemplo do rebanho. Nesse caráter, a atuação do ministro é fundamental. Sua responsabilidade é maior por estar à frente do povo de Deus. Seja, portanto, os ministros, zelosos no desempenho de sua função, dedicando-se realmente à Palavra de Deus e à oração, preparando devidamente suas mensagens e ungindo-as com o poder do alto para alimentar bem o rebanho de Cristo, visitando as ovelhas, especialmente as que precisam de maiores cuidados, e não se descuidando da disciplina pessoal e de boa conduta diante dos homens. “Tem cuidado de ti mesmo”, é a exortação de Paulo ao pastor Timóteo. Os presbíteros, por sua vez, que governem bem, seja verdadeiros companheiros dos ministros na administração da Igreja, exemplos de piedade, não sobrecarregando os ministros com tarefas que possam eles mesmos executar, para a boa divisão do trabalho. Os diáconos, que seja fiéis e criteriosos na aplicação dos recursos financeiros, solícitos na prática da beneficência e também exemplos de fé e piedade, conforme o modelo de Atos 6.3. Os membros, que sejam fiéis no cumprimento dos votos que assumiram ao professarem a fé, freqüentadores dos trabalhos regulares de sua igreja, piedosos, bons contribuintes e testemunhas atuantes do Senhor Jesus Cristo!
VISÃO MISSIONÁRIA
Temos ouvido freqüentemente a observação de que a ênfase na doutrina diminui o zelo pelo evangelismo. Essa é uma visão distorcida da ortodoxia. Um dogmatismo formalista, que seja fim em si mesmo, pode levar a tal “ortodoxia” estéril e morta. Não, porém, a ortodoxia que constitui a razão de ser desta Igreja. Esta só pode levar ao grande zelo missionário e evangelístico que teve o apóstolo Paulo, campeão da ortodoxia e campeão do evangelismo. Quem ousaria se comparar ao grande apóstolo dos gentios em ardor evangelístico? Quem se diria mais zeloso na doutrina do que ele? O mesmo apóstolo que disse: “Mas, ainda que nós, ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá alem do que vos temos pregado, seja anátema”, foi também o mesmo que disse: “Pois sou devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes; por isso quanto está em mim, estou pronto a anunciar o evangelho também a vós outros, em Roma”. (Gl 1.8; Rm 1.14,15). Onde, portanto, a incompatibilidade entre o zelo doutrinário e o ardor evangelístico? A verdade é que não podemos nos acomodar a uma ênfase unilateral, pois a verdadeira doutrina leva à evangelização.
A ênfase na evangelização não faltou também à Igreja nos seus primeiros dias. Para comprovar isso, citamos literalmente as palavras da 1ª pastoral apresentada a esta Igreja, de junho de 1940, a que já nos referimos anteriormente: “A vossa atividade, irmãos queridos, deve caracterizar-se por um vivo espírito missionário. A Igreja Conservadora quer ser pujante e forte, nos alicerces de sua ortodoxia inabalável. Para esse ‘desideratum’ ser atingido, fugi ao mal do proselitismo. Crescer pela admissão de membros de outras denominações, obtidos pela propaganda dos nossos princípios, não satisfaz inteiramente. É o em História Natural de chama de crescimento por aposição, de fora para dentro. O que deveis aspirar é o crescimento de dentro para fora, ou seja, intussuscepção. Este é o dos seres vivos, enquanto que aquele é dos minerais. A Igreja Conservadora surgiu para ser uma igreja viva. Para isso, são necessárias conversões de elementos estranhos ao meio evangélico, tocados pela graça de Deus, mediante a instrumentalidade do trabalho missionário”. (“O Presbiteriano Conservador”, julho de 1940, Ano I, Nº 4).
Quase 43 anos são passados desde que esse desafio foi lançado. É forçoso reconhecer que esse “desideratum” não foi totalmente atingido. O trabalho tem se desenvolvido a contento em algumas áreas, mas o mesmo não se pode dizer de todos os lugares onde o nosso testemunho já foi implantado. De fato, em alguns lugares, em vez de avanço houve retrocesso. Sejamos humildes para reconhecer nossas falhas e mais prontos a obedecer a grande comissão: “Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as cousas que vos tenho ordenado.” (Mt 28.19). Fazer discípulo (evangelizar), batizar (unir à Igreja visível) e ensinar (doutrinar) é a grande tarefa da Igreja, enquanto cumpre sua missão de testemunha de Deus na terra. É notável como as tarefas de evangelizar e doutrinar estão interligadas, neste texto!
Precisamos estender nosso testemunho a outros estados da federação, estabelecer núcleos de trabalhos em grandes centros populacionais, para daí partirmos para um alcance do nosso território nacional. Precisamos ativar nossa Junta Missionária, para atingirmos regiões mais isoladas e estabelecer trabalhos pioneiros.
Precisamos também rogar ao Senhor da seara por mais obreiros. Os campos estão realmente brancos. Onde estão os obreiros? Há algum tempo, temia-se que com a saída das várias turmas de formandos do Seminário, não houvesse campo para todos. A realidade, porém, totalmente inversa. O Seminário está formando ministros desde 1956, embora poucos, na verdade, e ainda não há pastores para todos os campos. Nossa tarefa é pedir que Deus supra essas lacunas, despertando vocações no seio de nossa Igreja. A promessa de Cristo é que Ele estará conosco até a consumação do século (Mt 28.20). Nada há o que temer. Temos é que obedecer!
Finalizando, quer este Sínodo expressar suas fraternais saudações a todos os irmãos sob sua jurisdição, exortando-os a permanecerdes firmes na posição onde Deus nos tem colocado e lembrando a todos que é ao Senhor, a quem servimos. “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis, e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão”. (1Co 15.58). O Senhor vos abençoe e vos guarde! O Senhor vos faça frutíferos na Sua obra! Amém!
Limeira, 23 de janeiro de 1983
João Alves dos Santos
Horace de Paula