“Uma Igreja em boa ordem cultua com ordem e decência” (1ª Coríntios 14.40) (Parte 2)
30 de outubro de 2019
HISTÓRICO: “REV. EDIVAL JOSÉ VIEIRA, SUA VIDA E MINISTÉRIO”
30 de outubro de 2019
“Uma Igreja em boa ordem cultua com ordem e decência” (1ª Coríntios 14.40) (Parte 2)
30 de outubro de 2019
HISTÓRICO: “REV. EDIVAL JOSÉ VIEIRA, SUA VIDA E MINISTÉRIO”
30 de outubro de 2019
Será que na relação intratrinitária teríamos exemplos para uma boa convivência entre os homens?

Como devo pensar política? Como devo pensar a relação em família? E quanto ao meu trabalho? A preocupação da filosofia política consiste nis-to: como nossa sociedade é organizada? Ela tem funcionado? Qual o critério para avaliarmos se funciona bem ou não? A liberdade individual é algo inegoci-ável em uma sociedade, no entanto, creio que esta liberdade para ser vivida de forma responsável deve estar subordinada a mecanismos que delimitem o uso devido desta liberdade, para que não ponha barreiras na liberdade dos outros. Todavia, é óbvio que quando falo de liberdade parto do pressuposto que esta liberdade tem que vir de algum lugar, ou seja, o conceito de liberdade que advogo é uma liberdade que esteja submissa à Lei de Deus. E, por ser assim, o objetivo deste trabalho é ver se temos na relação que há entre as Pessoas da Santíssima Trindade, algo que seja luz para nossa relação em socie-dade, família e igreja. Penso que se faz necessário passarmos aos conceitos.

Há um conceito interessantíssimo que precisa ser esclarecido: pericóresis. O doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Ro-ma, Luiz Carlos Susin, diz que:

O teólogo grego João Damasceno, em seu escrito sobre a Verdadeira Fé, teria tomado a palavra pericóresis, que se pode atualizar por pericore-se, de uma dança própria das crianças em momento de brincadeiras. A palavra grega se compõe de três radicais: Peri quer dizer “ao redor”, como periferia ou perímetro. A palavra: coram, de onde provém o meio de pericorese, significa “estar de frente” ou “em face de” como o coro de cantores que fica de frente para a plateia. E, finalmente, a ultima parte- esis- significa “decorrência. Algo que jorra de uma fonte. 1

O termo pericorese, embora pareça sem sentido para nós, tem dentro da Teologia Trinitária um significado de extrema relevância, pois expressa a relação mútua das pessoas da Bendita Trindade. A ideia de pericorese, como já foi citada, vem de uma brincadeira de roda, e nesta brincadeira, uma cri-ança se posicionava no centro e as outras dançavam ao seu redor, só que, aquela que estava no meio, não era excluída da brincadeira, pelo contrário inte-ragia com as outras crianças, então por escolha ou verso recitado, a que estava no centro trocava de lugar com outra criança, e aquela que estava no centro ia para a roda.

O Dr. Heber Carlos Campos diz o seguinte:
Para ilustrar essa “dança”, O Pai Criador, o Filho-Verbo e o Espírito Sustentador estão envolvidos igualmente na obra da criação; todas as três pessoas, que compartilham eternamente a essência da divindade, conquanto distintas e possuindo alguns atributos distintivos ou mais enfáticos, elas par-ticipam igualmente (não quantitativamente) em todas as opera ad extra, exceto a obra da encarnação, que pertence unicamente a Segunda Pessoa da Trindade.2
Pericorese trata de comunhão entre as Pessoas da Santíssima Trindade, de um movimento de amor e graça para com toda a criação. Às vezes uma Pessoa da Santíssima Trindade, pode parecer estar em mais evidência do que as Outras, mas isto não anula o fato de que cada obra tem a participação em cada ato opera ad extra de cada Pessoa da Santíssima Trindade.
A pericorese nos faz entender que, quando Deus age, não é Uma ou Duas Pessoas que estão agindo, mas todas as Três Subsistências da Bendita Mônada.3
Dito isto, cabe aqui uma pergunta:

HÁ RELAÇÃO ENTRE A PERICORESE E A CRIAÇÃO?

É claro que sim!

Quando o Senhor Deus nos criou estabeleceu uma aliança da criação, nesta aliança Ele deu três mandatos ao homem: Mandato Espiritual, Cultu-ral e Social. Os mandatos que dizem respeito à questão da convivência humana são o cultural e social.

É interessante começarmos a nossa análise pela família, pois é a célula mater da sociedade. Como vimos, as Três benditas Subsistências vivem em harmonia, em cada obra feita, não há manifestação egoísta e sim uma manifestação amorosa, de sorte, que cada obra que Um faz, os outros partici-pam, com isto não queremos dizer que não haja distinção formal nas obras de cada UM, ou seja, “Trindade econômica”. Sobre isto, o Dr. Heber Carlos Campos diz o seguinte:

A palavra economia diz respeito ao modo como as coisas são feitas pelas pessoas da Trindade. Embora as três pessoas co-essenciais trabalhem como uma unidade, elas possuem um modus operandi que é próprio e exclusivo de cada uma. Todas essas obras têm a ver com a relação que as pessoas possuem com o mundo criado, seja na esfera da criação, providência ou redenção. O Pai sempre age através do Filho e do Espírito. Dessa forma, o Pai é a fonte de atividade, que opera dentro de si mesmo e por si mesmo. O Filho é o meio pelo qual o Pai trabalha, que opera não por si mesmo, mas faz todas as coisas a mandado do Pai, e o Espírito é o limite de atividade, que opera não de si próprio, mas faz o que é do Pai e do Filho.4

O modelo para uma família viver em paz é o modelo que existe na Trindade: Amor, comunhão, respeito. Por isso a ação pericorética que é vista na Santíssima Trindade tem muito a nos ensinar.

Quando Deus criou o homem, o Senhor estabeleceu os mandatos, de forma bem sucinta, teríamos as seguintes definições: O mandato espiritu-al envolve um relacionamento com o Deus; o mandato social consistia em Adão se casar com a mulher que Deus lhe tinha dado e gerar filhos para que po-voasse a terra; O mandato cultural consistia em Adão trabalhar e desenvolver a terra. Neste mandato reside a ideia do estudo, do trabalho, do desenvol-vimento tecnológico. Ao homem foi dada a função de dominar a terra. Porém, essa dominação deveria ser amorosa, não destrutiva, o homem está preso ao seu meio ambiente, destruí-lo, significa destruir a si mesmo.

As Escrituras nos falam do pecado, com a entrada do mesmo houve a vandalização do shalom. Ou seja, do equilíbrio que havia. O amor e a co-munhão, características da Trindade, deveriam ser tomados como modelo pelo o homem no trato para com a sua mulher e a criação, mas, por causa do pecado, isto se tornou impossível. O pecado entrou no Jardim, corrompendo o perfeito relacionamento do homem com sua mulher. Relacionamento que piorou ainda mais fora do Éden. Houve desequilíbrio na natureza; houve a morte. Então, verificamos que por trás de todo desequilíbrio na sociedade reside o pecado. O mandato Cultural visava o domínio da terra, mas este domínio seria para benefício de todos, domínio que proporcionaria sociedade justa, ri-quezas para todos e não para poucos, mas por causa da avareza, do pecado social, que fornece estrutura para a opressão, isto não é realidade.

Vejam a triste realidade disto no texto de Ezequiel 22. 9-12 no qual lemos:
Homens caluniadores se acham no meio de ti, para derramarem sangue; no meio de ti, comem carne sacrificada nos montes e cometem perver-sidade. No teu meio, descobrem a vergonha de seu pai e abusam da mulher no prazo da sua menstruação. Um comete abominação com a mulher do seu próximo, outro contamina torpemente a sua nora, e outro humilha no meio de ti a sua irmã, filha de seu pai. No meio de ti, aceitam subornos para se der-ramar sangue; usura e lucros tomaste, extorquindo-o; exploraste o teu próximo com extorsão; mas de mim te esqueceste, diz o SENHOR Deus.

Estas acusações que o Senhor Deus fez denunciava a vandalização do shalom e a fonte que proporcionou tal quebra dos princípios do mandato social e cultural. Vejam:
a. Homens caluniadores
b. Que derramavam sangue
c. Comiam carne sacrificada nos montes
d. Cometiam perversidade
e. Descobriam a vergonha de seu pai e, abusavam da mulher no prazo da sua menstruação
f. Cometiam abominação com a mulher do seu próximo
g. Outro contamina torpemente a sua nora
h. Outro humilha no meio de ti a sua irmã, filha de seu pai
i. No meio de ti, aceitam subornos para se derramar sangue
j. Usura e lucros tomaste, extorquindo-o; exploraste o teu próximo com extorsão

Vejam o parecer do Senhor a respeito de tais atitudes: de mim te esqueceste, diz o SENHOR Deus. Estas práticas constituíam em pecado, ou se-ja, quebra dos princípios que visavam uma boa convivência dos homens, estes princípios naturalmente vindos da parte de Deus refletem àquilo que Deus considera bom, e logicamente, Deus por ser santo não pode aprovar uma coisa e vivenciar outra. Ou seja, aquilo que Deus determinou nos mandatos como conduta moral para família e sociedade é justamente sua revelação de como os seres devem se relacionar, exemplificando de forma pratica sua pericorese para com as criaturas.

As Escrituras falam que Deus como Criador e Dono de tudo que há odeia toda forma de injustiça, miséria e pobreza, porque isto vai de encontro ao que Ele experimenta em sua relação pericorética.
Será que o Senhor fica inerte diante de todo o mal que acontece na criação? Será que nosso Deus só e transcendente? Ou também é imanente? Certamente também é imanente. O Senhor se relaciona com seu povo e através das suas atitudes, temos compreensão daquilo que devemos fazer.

O CARÁTER LIBERTÁRIO DO SENHOR

Entre os atos pelos quais o Senhor se dá a conhecer, sua identificação com a justiça e punição aos injustos se manifestam claramente nas Sagra-das Escrituras. Na narrativa que encontramos em Êxodo 3. 1-22 percebemos de forma clara a manifestação de sua graça, justiça e punição.

Eis o texto:
Apascentava Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Midiã; e, levando o rebanho para o lado ocidental do deserto, chegou ao monte de Deus, a Horebe. 2 Apareceu-lhe o Anjo do SENHOR numa chama de fogo, no meio de uma sarça; Moisés olhou, e eis que a sarça ardia no fogo e a sarça não se consumia. 3 Então, disse consigo mesmo: Irei para lá e verei essa grande maravilha; por que a sarça não se queima? 4 Vendo o SENHOR que ele se voltava para ver, Deus, do meio da sarça, o chamou e disse: Moisés! Moisés! Ele respondeu: Eis-me aqui! 5 Deus continuou: Não te chegues para cá; tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa. 6 Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó. Moisés escondeu o rosto, porque temeu olhar para Deus. 7 Disse ainda o SENHOR: Certamente, vi a aflição do meu povo, que está no Egito, e ouvi o seu clamor por causa dos seus exatores. Conheço-lhe o sofrimento; 8 por isso, desci a fim de livrá-lo da mão dos egípcios e para fazê-lo subir daquela terra a uma terra boa e ampla, terra que mana leite e mel; o lugar do cananeu, do heteu, do amorreu, do ferezeu, do heveu e do jebuseu. 9 Pois o clamor dos filhos de Israel chegou até mim, e também vejo a opressão com que os egípcios os estão oprimindo. 10 Vem, agora, e eu te enviarei a Faraó, para que tires o meu povo, os filhos de Israel, do Egito. 11 Então, disse Moisés a Deus: Quem sou eu para ir a Faraó e tirar do Egito os filhos de Israel?12 Deus lhe respon-deu: Eu serei contigo; e este será o sinal de que eu te enviei: depois de haveres tirado o povo do Egito, servireis a Deus neste monte. 13 Disse Moisés a Deus: Eis que, quando eu vier aos filhos de Israel e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós outros; e eles me perguntarem: Qual é o seu nome? Que lhes direi? 14 Disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós outros. 15 Disse Deus ain-da mais a Moisés: Assim dirás aos filhos de Israel: O SENHOR, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó, me enviou a vós outros; este é o meu nome eternamente, e assim serei lembrado de geração em geração. 16 Vai, ajunta os anciãos de Israel e dize-lhes: O SENHOR, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó, me apareceu, dizendo: Em verdade vos tenho visitado e visto o que vos tem sido feito no Egito. 17 Portanto, disse eu: Far-vos-ei subir da aflição do Egito para a terra do cananeu, do heteu, do amorreu, do ferezeu, do heveu e do jebu-seu, para uma terra que mana leite e mel. 18 E ouvirão a tua voz; e irás, com os anciãos de Israel, ao rei do Egito e lhe dirás: O SENHOR, o Deus dos hebreus, nos encontrou. Agora, pois, deixa-nos ir caminho de três dias para o deserto, a fim de que sacrifiquemos ao SENHOR, nosso Deus. 19 Eu sei, porém, que o rei do Egito não vos deixará ir se não for obrigado por mão forte. 20 Portanto, estenderei a mão e ferirei o Egito com todos os meus prodígios que farei no meio dele; depois, vos deixará ir. 21 Eu darei mercê a este povo aos olhos dos egípcios; e, quando sairdes, não será de mãos vazias. 22 Cada mulher pedirá à sua vizinha e à sua hóspeda jóias de prata, e jóias de ouro, e vestimentas; as quais poreis sobre vossos filhos e sobre vossas filhas; e despojareis os egíp-cios.

Deus vê a aflição do povo (versos 7,9) O Senhor diz: “Certamente vi aflição do meu povo”, Ele ouviu o clamor de seu povo, a palavra para clamor é a ideia é clamar por ajuda, por estar muito aflito, a ideia é de trovejar, soar como trovão, por causa da opressão. Por que eles clamavam? O texto res-ponde: Por causa dos seus exatores, a ideia de exatores era de alguém encarregado pelo Faraó para aplicar penalidades e ver se o trabalho estava sendo feito. ver Êxodo 1. 11-14. Deus conhece o sofrimento deles, o texto diz a ideia é de dor física e dor psicológica. Isto hoje é muito familiar a nós, quem não sofre com alguma coisas? O povo no Egito certamente estava experimentando dor física e sua situação era motivo de aflição. No verso 9 diz que Deus via a opressão que os egípcios estavam fazendo. Deus vê o que está acontecendo no mundo; vê a aflição do opresso! Deus toma uma atitude que o diferencia dos falsos deuses.

Deus desce e salva o seu povo (versos 8, 10-18) Deus ouviu o seu clamor. Aqui é importante observamos uma coisa: Ao contrário dos deuses falsos, Deus ouve, conhece a aflição do seu povo e toma uma atitude que aqui no texto é descrito pelo verbo descer a ideia é descrever a ação de Deus, é como se Ele deixasse sua morada e viesse para comunicar-se com o homem, no caso para socorrer seu povo, que clamava. Aqui temos uma importante lição: Deus virá socorrer seu povo, Deus ouve o clamor de seu povo, Deus conhece o clamor de seu povo. Quando Deus vem, Ele vem com propósito: Livrar da mão dos egípcios e tirar eles daquele lugar e levá-los para outro.

Deus usa seus instrumentos de libertação. Aqui o instrumento da libertação foi Moisés. A Igreja é chamada para ser o agente discursivo que denuncia o pecado e a opressão. Neste aspecto devemos ser instrumento de libertação para o nosso semelhante e não de opressão, Quando estiver na nossa mão que não sejamos mesquinhos e nem opressores. Moisés aqui vai com uma função especifica: Tirar o povo do Egito.

Moisés faz uma pergunta a Deus, pergunta que se assemelha as nossas quando o Senhor nos chama para uma obra: Quem sou eu Senhor? Não somos nada, porém o Senhor é tudo! Somos instrumentos da ação de Deus e é isto que o Senhor deixa bem claro tanto para Moisés quanto para cada um de nós: “Eu serei contigo”. E como prova desta companhia, Deus dá um sinal a Moisés de que quando saíssem do Egito, serviriam a Ele e fariam liturgia na-quele lugar.

Moisés pergunta: de quem falarei?
E é aqui que Deus se revela, Ele diz: “EU SOU O QUE SOU”. Ele manda Moisés dizer: EU SOU me enviou a vós.
Deus fere o opressor de seu povo e honra seu povo (versos 19- 22). Deus sabia que o faraó não iria deixar ir, até porque foi o próprio Deus que endureceu o coração dele para este fim. Ver: Ex. 4.21; 7.3; 9.12; 10.1; 20, 27; 11.10; 14.4,8.

Veja como Deus libertou o povo e levou-o para o fim que havia dito a Moisés. Da mesma forma como Deus libertou seu povo de um local geo-gráfico conhecido, o Senhor nos libertou de uma realidade espiritual terrível. Todavia, esta libertação produzida pelo Senhor nos conduz à verdadeira co-munhão que deve ser baseada na relação pericorética que há na Santíssima Trindade. A comunhão entre os homens só pode existir quando os princípios da solidariedade mútua, do querer bem ao outro, estiverem nos corações dos homens. Jesus disse: “Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas” (Mt 7.12), Jesus fala do padrão da boa convivência entre os homens. Será que o Mestre iria falar de como as pessoas deveriam viver, se isto não fosse o correto? É logico que não!

Ricardo Barbosa de Sousa traz a seguinte reflexão:

O desafio que a Trindade impõe sobre nós hoje é o do resgate das relações pessoais e afetivas entre o homem e Deus, bem como entre o ho-mem e seu próximo. Temos visto que as tendências do mundo moderno apontam para uma direção completamente oposta, negando as bases de uma relação trinitária, criando uma imagem e um conceito do homem e de Deus que negam a revelação bíblia. É neste sentido que a doutrina da trindade hoje tem um caráter absolutamente revolucionário.5

Pois é justamente na relação da Trindade que iremos achar um modelo ideal para a nossa sociedade, um modelo que irá nos incomodar diante de tanta injustiça. A pobreza é uma realidade que é explorada. A igreja precisa denunciar isto como pecado. Todos aqueles que amam a Deus e defendem a verdadeira justiça social, devem regozijar-se na liberdade e procurar remover a causa da pobreza ou, pelo menos, aliviá-la mediante a aplicação do remé-dio indicado pela Palavra de Deus. Que a injustiça social é escandalosa não há dúvida.

YAHWEH se revela como Deus que escuta o sofrimento; que odeia a injustiça; que Liberta o povo da opressão; que criou céus e terra; que pro-videncia alimento para toda a sua criação; que odeia a exploração. YAHWEH se revelou a seu povo lá no Egito dentro de um contexto de opressão.

HÁ RELAÇÃO ENTRE PERICORESE E POLÍTICA?

Claro que sim! Faz-se necessário definirmos, o que vem a ser política.
É derivação grega a palavra “política”, que em seu sentido original significava “Politikos” que esta relacionada à cidade, porém ao conceito de po-lis que é mais abrangente do que cidade, entre os séculos 8 e 6 ac. Surgiram na Grécia as “polis”, cidades-estado, estas eram quase que como países atuais, Esparta e Atenas são as mais famosas, inicialmente a palavra política fazia referencia a tudo o que é urbano, civil, público, este significado expandiu-se com a obra Política de Aristóteles (384-322 ac.), onde passou a designar-se política como a arte ou ciência do governo, durante muito tempo passou a designar os estudos dedicados a atividade humana que de alguma forma se relacionam ao governo, porém na atualidade representa as atividades práticas relacio-nadas ao exercício do poder do estado; sendo assim está intimamente relacionada o conceito de política ao conceito de poder, segundo Bertrand Russerll (1872-1970), filósofo britânico “conjunto dos meios que permite alcançar os fins desejados”. O domínio da natureza pelo homem seria um desses meios o outro é o domínio do homem sobre o próprio homem, o poder político é apenas uma das formas de poder do homem sobre o homem, existe ainda o po-der econômico, o ideológico. No poder político é possível valer-se da força como meio para exercer a vontade diante disto este pode ser considerado o poder supremo, para tanto o poder político conta com o apoio da sociedade, onde por intermédio do estado se exercita as punições quando estas são ne-cessárias, ainda pode se destacar no poder político a universalidade e a inclusividade; o poder político possui limites, porém estes variam de acordo com o tipo de Estado, a política tem como objetivo a ordem pública e a defesa do território nacional e o bem social da população, este assunto mesmo não es-tando explícito nas conversas diárias é fundamental à vida de todos, pois através da política se constrói a vida da população, não podemos ingenuamente nos abster, cabe a população a discussão e pressão dos governantes.6

Hoje em dia, a concepção do domínio é a que mais nos parece comum. O homem tem inclinação para o domínio, isto em si, não é mal, pois foi o próprio Deus que colocou isto no homem, isto faz parte do mandato cultural, o problema é quando este domínio é opressor. Nos dias de Jesus a situação política era geradora de injustiças, exemplo disto é o que nos é dito a respeito de Herodes.

Ele não hesita tampouco em instituir jogos quadrienais em honra de Augusto, em Cesareia e até mesmo em Jerusalém. Rodeia-se de eruditos formados nas letras gregas, (…) Para satisfazer aos judeus, incrementa a reconstrução do templo e o faz embelezar; por esta ocasião, teve de mandar en-sinar o ofício de pedreiro a mil levitas, para evitar que simples operários profanassem os locais reservado aos sacerdotes.7

Eis um exemplo de um governador ímpio. A política é uma benção de Deus, é o meio ordenado para que o estado seja administrado. O proble-ma, poderíamos dizer, não é com o fato de termos homens governando, mas sim, com o tipo de homens que estão no poder. Deus poderia ter criado os homens separados, não dispostos para viver em sociedade, mas não foi isto que Ele fez, sendo assim, a política faz parte de seu plano para o homem, e da mesma forma como a pericorese deve influenciar a sociedade, também deve influenciar a política, até porque o senso de política está presente em Deus. O Senhor governa todas as coisas e estabeleceu leis. Os céus e toda a terra lhe pertencem, sendo assim, Ele é administrador.

Com a entrada do pecado no mundo, foram criados alguns mecanismos para que a vida humana tivesse condição de existência, e um desses mecanismos foi o magistrado. Kyper diz: “Pois, de fato, sem pecado não teria havido magistrado nem ordem do estado; mas a vida política em sua inteireza teria se desenvolvido segundo um modelo patriarcal de vida”.8 Não haveria cadeia, nem polícia, nem forças armadas, nada disso teria sentido no mundo onde não houvesse pecado.

A Política é algo que Deus colocou no seio de sua criação. Ele criou seres racionais para governar a criação, seres estes que são os vice-gerentes de sua criação, sendo assim, o homem, tanto em estâncias menores como seu lar, quantos em estâncias maiores como uma nação, é chamado para gover-nar, dirigir. A Confissão de Fé de Westminster no cap. XXIII Seção II, diz:

Aos cristãos é licito aceitar e exercer o oficio de magistrado, quando para ele são chamados; na administração da mesmo, como devem especi-almente manter a piedade, a justiça e a paz, segundo as leis justas de cada comunidade, eles, sob a dispensação do Novo testamento, e para esse fim, po-dem licitamente fazer guerra, havendo ocasiões justas e necessárias.9

A política é vocação, o problema é quando homens não vocacionados querem governar a criação de Deus, da mesma forma, que é um desastre um homem não vocacionado administrar a Igreja, também é um desastre não vocacionados administrarem cidades. Infelizmente, esta percepção da políti-ca como vocação não existe nas mentes da maioria das pessoas e esta deficiência se manifesta na falta de compromisso quando se vota. Até mesmo cren-tes votam sem seriedade, depois que Deus traz juízo através de maus governantes, as pessoas ficam sem entender os motivos disto acontecerem e re-clamam.

Governantes que professam a fé têm como função primordial levar nações ao reconhecimento da soberania de Deus e que elas existem com o propósito de prestar honras e louvores a Deus. Kuper tem a seguinte opinião:
Elas existem por Ele e são sua propriedade. E por isso todas estas nações, e nelas a humanidade, devem existir para sua glória e consequente-mente segundo suas ordenanças, a fim de que sua sabedoria divina possa brilhar publicamente em seu bem-estar, quando elas andam segundo suas or-denanças.10

Tudo deve redundar em glória para Deus. A criação não existe independente de Deus. Porém os homens anseiam por eliminar o conceito de Deus da sociedade; já disseram que até que Ele já tinha morrido.11 Por isso, o homem está perdido e nosso mundo está um caos. A Igreja precisa mostrar ao mundo qual o modelo de política correto. “A pericorese é a resposta.” Qualquer política pública que não leve em conta a justiça, equidade, equilíbrio e ordem não pode prosperar. Os homens precisam entender que em Deus é que reside a estabilidade política e a administração voltada para a justiça.

A Igreja deve dar o norte para que a sociedade tenha um modelo político que espelhe traços da comunhão que há entre as Pessoas da Santíssi-ma Trindade, pois ela é a melhor comunidade que existe. Qualquer forma de governo que gere opressão, não honra a Deus, é uma afronta aos céus. Atra-vés da pericorese como modelo devemos questionar nossas posições, preferências e candidatos políticos.

Vejamos um exemplo bem simples: Posso votar ou apoiar um candidato, ou partido, ou programa de governo, que tenha por finalidade algum objetivo que desonre a Deus? Ou então, que provoque mais exclusão social? Sabedor que Deus é contra a injustiça, a opressão, a violência, ao desvio de verbas e a todas as sortes de mazelas sociais que acabam trazendo sobre as pessoas exclusão social levando-as a serem exploradas? Lógico que não!
Será que uma comunidade onde há jogo de interesse, desonestidade, injustiça, soberba e domínio opressivo respeita a Deus? E se esta comu-nidade for a nossa igreja? Será que ela respeita a Deus? E se for a minha família? Será que respeita a Deus? Claro que não!

CONCLUSÃO

Deus age na história. Ao homem cabe ver e perceber a extensão deste agir. O homem pós-moderno com seu relativismo e ceticismo não per-cebe a teleologia da história e por não percebê-la entra no vácuo existencial, cai abaixo da linha do desespero e se agarra aos pressupostos mais absurdos possíveis. Por isso é que as Escrituras dizem que o tolo diz em seu coração que não há Deus (Salmo 14.1).

Já imaginastes se o Sagrado não existisse? Se não existisse uma lógica final que desse sentido a tudo? Já imaginastes se não houvesse uma ideia de recompensa ou punição final? Do que adiantaria toda correria? Todo o clamor por justiça dos parentes daquele que foram assassinados? Já imaginastes quão sem sentido é a vida de alguém que acha que encontrou sentido aqui? Enquanto sua vida se enquadrar no sonho encantado cor de rosa, tipo “prin-cesas e príncipes encantados” ele se iludirá pensando que achou o sentido. No entanto, penso que além de ser uma aposta alta é louca e sem sentido.

Sociedade, Pecado e Política. O que estas três coisas têm haver?
O homem é um ser social e por natureza agente de interação. Ninguém vive sem interagir uns com os outros.
Pecado é algo que é natural em todo ser humano. Não há ninguém que não fora contaminado pelo pecado original e consequentes manifesta-ções: culpa e corrupção

Política, “me deixa colocar desta forma” é a arte de estabelecer cosmovisões.

Bom, o que se percebe disto?

Não há ninguém que não tenha pecado e por natureza o pecado é algo ruim, contrário aos pressupostos divinos. O homem é um ser racional e como tal luta todo instante para que seus pareceres sejam aceitos, suas premissas, sua cosmovisão. Entretanto, a racionalidade do homem é contaminada pelo pecado e desta forma é obvio que sua política manifestará o que ele pensa. Todavia, a questão é que por sermos sociedade organizada, sujeitos de direitos e deveres, por estamos inseridos numa sociedade onde o pecado fora legitimado através de leis que por terem uma origem que vai de encontro as Escrituras, jamais revelarão a boa e perfeita vontade de Deus.

Qual é a fonte da ética? A razão? Pensemos: Quem é que pensa? Senão o homem, quem pode duvidar? O homem. Recordo-me o filósofo francês René Descartes: “Penso, logo existo”. Todavia, o homem é perverso, egoísta e outras coisas a mais. Logo, toda ética que provenha unicamente da razão humana será perversa, egoísta e outras coisas a mais.

A sociedade que existe na Santíssima Trindade e a ética que há nesta relação é o melhor caminho para o homem.
O temor do SENHOR é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino. Provérbios 1.7

Rev. Jasiel Cunha

BIBLIOGRAFIA:

SUSIN, Luiz Carlos. Deus: Pai, Filho e Espírito Santo. São Paulo-SP Paulinas, 2003
CAMPOS, Heber Carlos de. A Pessoa de Cristo as Duas Naturezas do Redentor. São Paulo-SP Cultura Cristã, 2004
CAMPOS, Heber Carlos de. O Ser de Deus e os seus atributos. São Paulo-SP Cultura Cristã, 2002
SOUSA Ricardo Barbosa de. O Caminho do Coração Ensaios sobre a Trindade e a Espiritualidade Cristã. 2. Ed. Curitiba-PR ENCONTRO PUBLICA-ÇÕES 1998
SAULNIER, Christiane. ROLLAND, Bernard. A Palestina no Tempo de Jesus 6.ed São Paulo-SP. PAULUS 2002
KUPER Abraham. Calvinismo, São Paulo-SP Cultura Cristã, 2002
WESTMINSTER Confissão de Fé Ed. São Paulo-SP OS PURITANOS 1999
SITES
http://pt.shvoong.com/social-sciences/political-science/1636126-que-%C3%A9-pol%C3%ADtica/

NOTAS
1. SUSIN Luiz Carlos. Deus: Pai, Filho e Espírito Santo. São Paulo-SP Paulinas, 2003. p. 141
2. CAMPOS, Heber Carlos de. A Pessoa de Cristo as Duas Naturezas do Redentor. São Paulo-SP Cultura Cristã, 2004, p. 311
3. Mônada: substância simples, ativa e indivisível. Os Pais Capadócios diziam: Na Tríade, a Mônada é adorada, assim como a Tríade é adorada na Mônada.
4. CAMPOS, Heber Carlos de. O Ser de Deus e os seus atributos. São Paulo-SP Cultura Cristã, 2002, p. 137
5. SOUSA Ricardo Barbosa de. O Caminho do Coração Ensaios sobre a Trindade e a Espiritualidade Cristã. 2. Ed. Curitiba-PR ENCONTRO PUBLI-CAÇÕES 1998 p. 92
6. O que é Política? Disponível em: http://pt.shvoong.com/social-sciences/political-science/1636126-que-%C3%A9-pol%C3%ADtica/ Acesso em: 29 de julho de 2019
7. SAULNIER, Christiane. ROLLAND, Bernard. A Palestina no Tempo de Jesus 6.ed São Paulo-SP. PAULUS 2002 p.23
8. KUPER Abraham. Calvinismo, São Paulo-SP Cultura Cristã, 2002 p.87
9. WESTMINSTER Confissão de Fé Ed. São Paulo-SP OS PURITANOS 1999 p. 399
10. KUPER, Abraham. Calvinismo, op. cit p. 89
11. Friedrich Nietzsche, filósofo alemão do final do séc. XIX (1844-1900) foi quem diagnosticou o niilismo como a “doença do século” e o tomou como eixo temático e problema capital expresso na “morte de Deus”. Para responder o que é o niilismo? Explica: “Falência de uma avaliação das coisas, que dá a impressão de que nenhuma avaliação seja possível”. “Niilismo: falta a meta; falta a resposta ao “por quê?”; o que significa niilismo? – que os valores supremos se desvalorizam”. Visto como um longo processo, o niilismo alcança seu auge na morte de Deus. Que marca o momento de constatação da perda de sentido e validade por parte dos valores superiores da cultura no Ocidente. Representa assim, o fracasso de uma interpretação da existência que por muito tempo auxiliou o homem a suportar a dor. Deus morreu! Deus continua morto! E nós o matamos!! Como nos consolaremos, nós, os assassinos dos assassinos? O que o mundo possui de mais sagrado e possante perdeu seu sangue sob a nossa faca. O que nos limpará deste sangue?… Este evento enorme está a caminho, aproxima-se e não chegou ao ouvido dos homens… É preciso tempo para as ações, mesmo quando foram efetuadas, serem vistas e entendidas. Nietzsche e a morte de Deus. Disponível em: http://www.eticaefilosofia.ufjf.br/8_1_giuliano.html Acesso em: 21 de janeiro de 2015