“Uma igreja em boa ordem cultua com ordem e decência”.
17 de abril de 2020
“Uma análise autoral, histórica, política, socioantropológica e psíquica de primeira Pedro”
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“A IGREJA FOI CONVOCADA POR DEUS”

“A Igreja foi convocada por Deus”

(JUDAS 3, 4)

 

Sermão pregado no Culto dos 80 anos da IPCB

INTRODUÇÃO

Judas, o irmão de Jesus, escreveu esta carta com o objetivo de prevenir as igrejas contra os falsos mestres que já se infiltravam sutilmente nela. Muito embora seja esta carta uma das mais negligenciadas no NT, Judas traz uma importante contribuição à igreja cristã de todas as épocas. Entre outras coisas, Judas alerta sobre as consequências de se abandonar a verdade e convida a cerrar fileiras contra toda deturpação moral e doutrinária.

Com base no texto lido queremos hoje falar a respeito do fato de que a Igreja foi convocada por Deus.

EM PRIMEIRO LUGAR A IGREJA FOI CONVOCADA PARA UMA GUERRA.

Não fomos chamados para o descanso, pelo menos não ainda, este virá na vinda de Cristo. Alguns parecem viver como em um resort ou spa. Estes buscam uma religião vida mansa.

A igreja na terra é chamada de militante, está em um campo de batalha. O descanso virá naquela igreja que é chamada de triunfante, uma vez encerrado nosso tempo nesta terra haverá então descanso das fadigas provocadas por esta guerra de acordo com Apocalipse 14.3

Esta guerra não é travada com armas, violência ou perseguição. Não é uma luta contra a carne, contra pessoas, mas contra principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes, como nos diz Paulo em Efésios 6.12.

Esta é uma guerra travada no campo das ideias, uma oposição através da pregação, do argumento; batalhar significa contender. Esta é uma guerra que se trava com ensino, exortação, admoestação e vida piedosa.

Ela envolve o reconhecimento do erro, a clarificação da verdade, a refutação e repreensão de falsos mestres.

Fica claro pelo texto que Judas considera essa batalha como parte integrante da vida cristã e não algo pontual.

Batalhar significa esforçar-se sem qualquer distração para alcançar um alvo. Significa abnegação, a fim de transpor obstáculos, evitar perigos, e, se necessário, aceitar o martírio. O termo “batalhar” significa literalmente “agonizar”. Mas, pelo que se luta nessa guerra?

A IGREJA FOI CONVOCADA PARA UMA GUERRA PELA FÉ QUE FOI DADA DE UMA VEZ POR TODAS.

Esta guerra é pela fé, ou seja, pelo conjunto de crenças, de doutrinas reveladas no Evangelho, portanto é uma luta pela verdade.

Deus dá, pela obra do Espírito Santo no pecador, a fé salvadora e esta envolve o reconhecimento dos seus pecados, o arrependimento e confissão dos mesmos e a fé na obra realizada por Cristo Jesus.

Esta fé vem pelo ouvir da Palavra e esta Palavra é o conteúdo da fé. É por esta fé, o conteúdo revelado por Deus em sua Palavra que batalhamos. Estas verdades foram dadas por inspiração do Espírito Santo de uma vez por todas, ou seja, não há novas revelações, elas foram dadas de forma definitiva e dadas aos santos, ou seja, à igreja, ao corpo de Cristo.

Estas verdades são constantemente atacadas. A pseudociência ataca a verdade da fé com teorias como o evolucionismo, o liberalismo teológico ataca com a crítica ao texto bíblico como se este não fosse inspirado por Deus e inerrante.

Nos últimos dias a verdade foi atacada de forma direta, já que indiretamente isto tem acontecido todos os anos, por escolas de samba vituperando a Cristo.

Qual é o papel da igreja em meio a estes ataques? Rejeitar veementemente tudo o que não se enquadrar no padrão de fé que de uma vez por todas foi ensinado pelos Apóstolos.

Uma das razões pelas quais a igreja evangélica brasileira tem sido invadida, minada, estragada e dividida por tantos ensinamentos estranhos ao evangelho de Cristo é o espírito da nossa época. O espírito de tolerância com o erro, o espírito pragmático, o desejo de ser relevante tem mundanizado a igreja e retirado dos púlpitos a combatividade necessária para exortar a igreja contra os males tanto doutrinários quanto práticos.

Os fundadores de nossa denominação conseguiram enxergar este perigo tanto que tomaram este texto como sua divisa.

Mas, qual é o grande problema em não se combater o erro? Isto nos leva ao ponto seguinte:

A IGREJA FOI CONVOCADA PARA UMA GUERRA CONTRA O PECADO.

O problema enfrentado pela comunidade a quem Judas escreve era um ensino corrompido a respeito da graça.

Alguns homens, mestres itinerantes ou membros da igreja, se introduziram sorrateiramente, ou seja, fazendo-se passar por cristãos, tendo uma conduta e ensino que demonstravam iniquidade, pois entendiam que a graça de Deus lhes permitia entregar-se à liberdade sexual desenfreada.

A graça, que significa o amor perdoador de Deus através do qual o pecador recebe liberdade para servir a Deus e expressar gratidão, era vista por eles como liberdade não para honrar a Deus mas para satisfazer suas paixões sexuais.

Este comportamento nega na prática o senhorio de Cristo sobre suas vidas.

Ao transformar o efeito da obra graciosa de Jesus em favor dos pecadores numa vida licenciosa e libertina, esses indivíduos acabavam por negar-lhe a soberania e o senhorio.

Paulo diz o seguinte em Tito 1.16:

No tocante a Deus, professam conhecê-lo, entretanto negam-no por suas obras, por isso que são abomináveis, desobedientes e reprovados para toda boa obra.

A verdade é que todo desvio da verdade bíblica redunda em prática pecaminosa.

Judas como pastor e mestre observa o desenvolvimento de algo perigoso dentro da igreja. Sente que precisa alertar os membros para estarem preparados e fazerem oposição àqueles que se introduziram na comunidade cristã.

Ele lhes lembra nos versículos seguintes que Deus trará juízo contra os que insistem em viver na prática do pecado. São citados os que saíram do Egito (5), os anjos caídos (6) e os habitantes de Sodoma e Gomorra e circunvizinhança (7). Da mesma forma que estes sofreram juízo os dissimulados dos dias de Judas também receberão o justo juízo de Deus (15).

Eles são chamados de sonhadores alucinados que rejeitam o governo e difamam as autoridades, de seguidores do caminho de Caim, do erro de Balaão e da revolta de Corá, entre outros.

CONCLUIMOS dizendo que estamos há 80 anos, pela graça do Senhor e apenas por sua graça, batalhando pela fé.

O Rev. João Alves dos Santos diz no livro A Questão Doutrinária que “O preço da pureza doutrinária, até onde ela pode ser alcançada e mantida, ainda é a eterna vigilância ou, como alguns a chamam, a eterna “intolerância”. Nossa igreja não pode abrir mão dela, se quiser continuar “conservadora”.

Estamos prontos a batalhar pelas verdades reveladas nas Escrituras?

Estamos prontos a manter nossos símbolos de fé e as práticas que nos identificam como denominação?

Estamos prontos a não remover os marcos antigos?

Encerramos citando as palavras do Rev. Edival José Vieira no início da pastoral de 1997: “continuamos na trilha de nossa denominação, no propósito de manter essa bandeira içada num lugar de destaque, testemunhando, dessa forma, que continuamos na batalha da fé que uma vez foi dada aos santos. Entendemos que essa bandeira não pode ser substituída e nem a nossa batalha pode mudar a sua ênfase. Não é tempo de mudarmos os marcos antigos (Pv 22:28), mas é tempo de firmarmos cada vez mais estes marcos (Is. 54:2); não é tempo de cavarmos novos poços à procura de uma nova água, mas é tempo de tirarmos os entulhos dos antigos e nos abeberarmos da antiga água (Gn 26:18,19); não é tempo de procurarmos novos caminhos para a Igreja, mas é tempo de permanecermos naquilo que aprendemos e de que fomos inteirados, sabendo de quem o temos aprendido (II Tm 3:14); não é tempo de mudanças de alicerces (Ef. 2:20; I Co 2:11), mas é tempo de construirmos sobre os alicerces antigos estabelecidos pela Palavra de Deus e considerados pelos fundadores da nossa Igreja, em 1940.

A opção dos fundadores em 1940 não foi por mais uma nova denominação, mas foi por uma nova causa, boa, justa e necessária, no contexto religioso de então. Escolheram a carta de Judas como texto norteador desta causa, cujo moto é batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos (Jd v. 3). Constatando que esta causa continua sendo boa, justa e necessária no atual contexto religioso em que vivemos, não há como desprezá-la. Perder de vista os princípios originais é entregar a nossa amada Igreja aos perigos das inovações, os quais têm ruído os alicerces de várias igrejas de linha Reformada. Temos um lema, temos uma marca denominacional, temos uma bandeira e isto não pode ser descaracterizado. Estes cinquenta e sete anos (agora 80) de batalha pela fé já foram suficientes para que todos nós tenhamos a certeza de que foi Deus quem levantou esta causa, e a tem sustentado até hoje e a tem usado como um instrumento de bênção na expansão de Seu Reino.”

Fomos convocados para uma batalha pela fé e contra o pecado. Somos agentes do Reino.

Sigamos firmes neste chamado. Deus nos abençoe. Amém.

por Rev. Welerson Alves Duarte

(Presidente da AG da IPCB)