“O Deus que se revela predestina todas as coisas”

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“O Deus que se revela predestina todas as coisas”

Rev. Welerson Alves Duarte

A palavra “predestinação” soa quase como um palavrão para alguns, como se referisse mesmo a uma heresia. No entanto, a palavra ocorre na Bíblia diversas vezes.

Alguns defendem a tese de que a predestinação, ou eleição, está baseada na presciência de Deus, ou seja, por saber de antemão o que vai acontecer Deus então elege ou predestina. Porém, para se conhecer algo que vai acontecer é preciso que já esteja determinado que aquilo ocorrerá. Quem poderia estabelecer algo de antemão para que Deus viesse a conhecer? Só Deus pode.

A predestinação é particularmente atribuída ao Pai nas Escrituras (João 6:37,64,65; 17:6,9; At 4:28; Rm 8:29-30; 9: 11-13; Ef 1:5,11; 1Ts 5:9) e se refere especialmente a indivíduos e não a grupos no que diz respeito a salvação (Mt 24:24; João 6:37,39,44-45,65; 15:16; 17:2; At 13:48; Rm 8:29-30; 11:5,7,11,16,22,24; Ef 1:4,11; Fp 4:3; 2Ts 2:13; 2Tm 1:9 ; 2:19. 1Pe 2:9).

Além da base bíblica o relacionamento da predestinação com outras doutrinas apontam para a veracidade desta doutrina.

Quando consideramos alguns dos atributos de Deus tais como onisciência, soberania, onipotência, imutabilidade, etc podemos concluir que alguém assim naturalmente tem o controle de tudo. Já consideramos em artigo anterior que o Deus que se revela tem um plano universal e eterno. Se a salvação é atribuída a Deus, como o é, então a eleição faz parte do Seu eterno decreto e propósito: Sl 33:11; Nm 23:19; Ml 3:6; Tg 1:17; Hb 6:17.

Quando pensamos na doutrina da providência podemos evidenciar de modo prático a doutrina da predestinação, se não vejamos, é a providência de Deus que determina de modo soberano se uma pessoa nascerá num país pagão ou cristão, se numa família pagã ou cristã, se terá chance de ouvir o envangelho ou não. Esses aspectos da providência podem ser decisivos para a sua salvação ou perdição de alguém já que a salvação ocorre através dos meios também ordenados por Deus. Um teólogo chamado Dabney diz o seguinte a respeito disso: “Praticamente, que chances de alcançar o céu teve aquele homem a quem Deus fez nascer, viver e morrer no Taiti no século XVI? O fato de sua sorte ser lançada lá não fixou virtualmente sua sorte para a eternidade?”

Ao considerarmos o ensino bíblico de que o homem está morto em seus delitos e pecados (Ef. 2.1) e que a inclinação da carne é inimizade contra Deus (Rm. 8.7) somos levados a concluir que a natureza humana é hostil a Deus e à Sua lei. Ninguém pode vir a Cristo se não for trazido pelo Pai (Jo. 6.65). Se é Deus quem leva o homem a Cristo, à fé, então, Ele o faz de propósito, seguindo um plano eterno, como tudo que Ele faz (Rm 3:11; João 5:40; 6:44). A natureza do homem, decaída, precisa da eleição divina.

A eleição divina é soberana, mas não arbitrária (Ef 1.11). Arbitrariedade é agir sem regras enquanto que soberania é agir de acordo com regras. Estas regras são definidas pelo próprio caráter de Deus.

Em passagens como Rm 9:11-13,21 encontramos o ensino da soberania de Deus na eleição. Nesta passagem o Apóstolo Paulo trata da eleição em relação às obras. Paulo aponta para o fato de que a salvação de alguém não se baseia nas obras, nem depende delas, mas da soberana eleição para a vida.

A eleição além de soberana é também eterna (Ef 1:4; 2Ts 2:13; 2Tm 1:9). Assim como os decretos são eternos a eleição é eterna como tudo que provém de Deus.

Ela é também imutável e sua eficácia está assegurada pela soberana vontade divina (Nm 23:19; Sl 33:11; Is 46:10). Se a eleição divina não fosse eficaz, Cristo não poderia ter a garantia de ver o fruto do trabalho de Sua alma (Is 53:11).

A eleição é incondicional não se baseando, desta forma, na fé prevista como creem alguns. Isto é uma impossibilidade pois como já vimos para que alguma coisa possa ser prevista ela precisa estar determinada. Além disso, sendo totalmente depravado, não pode crer por si mesmo, sem que lhe seja dada a fé.

A eleição é feita em Cristo (Ef 1:4), ou seja, todos os eleitos são pecadores e necessitados de Cristo e estão contidos em Cristo, o que em teologia é chamado de união mística ou corpo mistíco de Cristo.

Se alguns são eleitos presumi-se que os demais foram preteridos ou reprovados.

O teólogo Luiz Berkhof define a Reprovação como sendo “o decreto eterno de Deus pelo qual Ele determina deixar de aplicar a um certo número de homens as operações da Sua graça especial, e puni-los por seus pecados, para a manifestação da sua justiça”. Esta definição destaca os dois aspectos da reprovação: a preterição (negativo) e a pré-condenação (positivo).

Quanto a estes dois aspectos pode-se dizer que a preterição é a ausência de eleição, o que não piora a situação do pecador, pois ele não é condenado por ter sido preterido, mas por ser pecador. Não há injustiça da parte de Deus uma vez que o pecador está recebendo o que merece.

A pré-condenação é o elemento positivo da reprovação e tem a ver com a justiça de Deus sendo a aplicação justa da sentença contra o pecado. Como tudo que Deus faz está decretado desde a eternidade (At 15:18), segue-se que a condenação dos pecadores não eleitos também está. Por isso é chamada de “pré-condenação”.

A base, portanto, da eleição é a vontade soberana de Deus em manifestar Sua graça em pecadores que mereciam a condenação e, a da reprovação é a justiça de Deus sendo aplicado a pecadores.

Você salvo foi alvo da graça de Deus sem que houvesse em você nada que o movesse a querer salva-lo; nada há de diferente em você, mas por graça, ele te amou e salvou em Cristo. Seja grato.