“Quais os deveres dos Presbíteros?” (1ª Pedro 5.1-4)

“A Doutrina da Suficiência das Escrituras”
11 de julho de 2019
“Uma Igreja em boa ordem cultua com ordem e decência” (1ª Coríntios 14.40)
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“Quais os deveres dos Presbíteros?” (1ª Pedro 5.1-4)

Nestes versos, Pedro se dirige especificamente aos que têm responsabilidades especiais na Igreja. Barclay falando a respeito da função do cargo de ancião traz as seguintes considerações:

“A função de ancião tem um pano de fundo judeu. Os judeus fazem remontar a origem da função de ancião aos dias em que os filhos de Israel estavam atravessando o deserto rumo à Terra Prometida.” (BARCLAY, data não informada, p. 150). Quais as funções que as Escrituras estabelecem nestes versos para os presbíteros? Lembrando sempre que o pastor da igreja também é um presbítero.

OS PRESBÍTEROS DEVEM PASTOREAR O REBANHO DE DEUS (vv. 1-2a)

Pedro começa o verso reconhecendo que entre os santos havia presbíteros, isto é importante, pois já demonstra que na Igreja havia uma pluralidade de presbíteros, ou seja, um conselho. Se alguns atentassem para isto veriam que a ideia de não se ter presbíteros na igreja atenta contra a ordem estabelecida nas Escrituras. Pedro chama-os a responsabilidade. Kistemaker em seu comentário diz:

Seguindo o exemplo dos presbíteros de Israel que governavam as sinagogas, os presbíteros na igreja primitiva serviam de liderança para as congregações (At 11.30; 21.18). Os apóstolos nomeavam presbíteros em todas as igrejas (At 14.23), e os ajudantes apostólicos eram instruídos a fazer o mesmo (Tt 1.5). Os apóstolos incumbiam os presbíteros de oferecer cuidado espiritual para os membros da igreja através do ensino e da pregação da Palavra; de guardar a pureza da fé cristã advertindo o povo de Deus sobre falsas doutrinas; e de promover a paz e a ordem dentro da igreja, servindo de exemplo através de seus próprios lares (vs. 1-4; At 20.28; Ef 4.11-13; lTm 5.17). Paulo dá a Timóteo e Tito uma lista de qualificações para os presbíteros (ver lTm 3.2-7; Tt 1.7-9). (KISTEMAKER, 2006, p. 254)

Pedro usa um verbo “parakaléo” “rogar, exortar, encorajar”. Presente do indicativo. Eles deveriam fazer isto de forma constante. Pedro se identifica como co-presbítero e testemunha dos sofrimentos de Cristo”. Mueller em seu comentário diz o seguinte:

Em primeiro lugar, ele é testemunha dos sofrimentos de Cristo.
A palavra “testemunha” pode significar duas coisas aqui: a) teste-munha no sentido de alguém que esteve presente a um acontecimento, podendo assim testemunhar dele (uma testemunha ocular). No caso de Pedro, pode-se dizer que ele testemunhou, nesse sentido, a paixão histórica de Cristo, que é do que se fala aqui. b) testemunha no sentido de alguém que fala de uma coisa, que dá testemunho dela diante de outros (um mártir é alguém que morre pelo testemunho que dá); nesse sentido, o termo não implicaria em participação histórica no evento. O mais natural aqui parece ser que Pedro está dizendo que presenciou a paixão de Cristo, dando agora testemunho da forma como Ele sofreu e da reação que teve, que tanto impressiona (cf. a descrição em 2.21-25). (MUELLER,1991, p. 254)

Pedro foi testemunha dos sofrimentos de Cristo. Além disto, Pedro também diz que é “koinonós” parceiro, companheiro com eles da Glória que está sendo revelada. Importante fazer menção da relação que Pedro faz. Pedro se identifica com eles, o próprio Pedro também sofria perseguição. Pedro no verso 13 do cap. 4 disse que na revelação da glória de Cristo eles estariam alegres, exultando. O cristão precisa entender isto: Sofrer por Cristo é ser coparticipante dos sofrimentos de Cristo e todo aquele que é identificado desta forma participa da glória que está e continuará sendo revelada até que chegue a sua forma plena.

Pedro nos versos posteriores dá uma série de explicações sobre o trabalho dos presbíteros na Casa de Deus. O primeiro a ser considerado é o de pastorear. Nestes versos é necessário observarmos algumas conclusões:

A igreja é governada por uma pluralidade de presbíteros (conselho).

Esta pluralidade de presbíteros é quem pastoreia a Igreja de Deus.

Pedro usa o verbo “poimaino” pastorear, este verbo é um imperativo aoristo ativo. A ideia é de um pastoreado que deve ser feito de for-ma completa, plena e ativa. A figura do pastor é algo recorrente nas Sagradas Escrituras. O salmo 23 diz: O Senhor é meu pastor. Qual o sentido que esta figura de linguagem evoca no mundo antigo? Lurker em seu Dicionário de Figura e Símbolos Bíblicos diz:

A apreciação do pastor, que leva o rebanho às pastagens e o protege de feras das selvas, evidencia-se pelo fato de que nas titularias de reis o oriente antigo a palavra pastor é uma das mais usadas. As insígnias dos reis egípcios, o açoite e o cetro, eram originalmente o sinal característicos dos pastores, o abana-mosca e o cajado de pastor. Visto que o rei é, segundo antigo sentir, representante terreno da divindade, também esta é vista na figura do pastor. Nas artes mesopotâmicas e gregas encontra-se a imagem do pastor, que carrega aos ombros um cordeiro ou um bezerrinho. (LURKER, 1993, págs. 174-175)

A atitude de um pastor em relação a sua ovelha é de proteção e cuidado. O próprio Davi em certas ocasiões lutava contra animais selvagens para não deixar que nenhuma de suas ovelhas se perdesse. Era costume em Israel que mesmo quando uma ovelha não pudesse ser salva das feras, o pastor deveria trazer um pedaço dela para mostrar que lutou por sua ovelha. As Escrituras descrevem o cuidado que os presbíteros devem ter pelo Rebanho de Deus. Ver Atos 20.28-31

Pedro usa o termo carinhoso para se referir aos santos de Deus “rebanho de Deus. É um termo carinhoso e significa o rebanho precioso de Deus que foi comprado pelo seu Sangue. Por ser tão precioso este rebanho precisa ser pastoreado, alimentado e protegido. Holmer em seu comentário diz:

A tarefa dos pastores consiste em apascentar. O foco está nas necessidades do rebanho. Apascentar é regido pela pergunta: de que a igreja precisa para um bom desenvolvimento e para ser protegida de perigos? Um verdadeiro pastor pode se esquecer de seus próprios interesses por causa das carências do rebanho e de cada uma das ovelhas que lhe foram confiadas, e o mesmo vale para um ancião no tocante à igreja que lhe foi confiada. (HOLMER, 2008, p. 67)

OS PRESBÍTEROS DEVEM TER AS MOTIVAÇÕES CORRETAS (vv. 2b–3)

Quais as motivações corretas que um presbítero deve ter? Como ele deve pastorear o rebanho de Deus? O texto nos dá informações anti-téticas, ou seja, proibições seguidas da maneira correta de ser portar.

A primeira informação: “não por constrangimento, necessidade, forçado.” Mas, (conjunção hiperodenativa) “voluntariamente”. Holmer em seu comentário diz “ Pedro refere-se à falta de disposição para cooperar. Há uma forma de cumprimento do dever que não traz alegria para ninguém.” (HOLMER, 2008, p. 67).

A segunda informação: “não porém, por ganho vergonhoso”. Mas, (conjunção hiperodenativa) “pronta-mente, zelosamente” A palavra é extremamente forte e expressa entusiasmo e zelo devotado. Holmer em seu comentário diz:

Os anciãos, como bons pastores, devem estar realmente empenhados pelo rebanho, tendo em vista o bem das ovelhas, e não mirando a lã delas. O significado básico do termo grego prothymos (= disposto), expressa: inclinado, com simpatia, com dedicação, com zelo, com gosto. O bem e as angústias dos outros ocupam, portanto, o foco, e o motivo é a determinação de servi-los. (HOLMER, 2008, p. 67).

A terceira informação: “nem como dominadores dos que vos foram confiados”. Mas, (conjunção hiperodeanativa) vos tornado modelos do rebanho. O verbo tornar no original é um particípio com sentido imperativo presente, ou seja, é uma ordem que Pedro dá aos presbíteros e esta ordem precisa ser obedecida de forma constante. Holmer em seu comentário diz:

O termo grego para o que lhes foi distribuído na realidade significa “sorteio”. Em seguida passa a significar: o que foi sorteado, a herança, o quinhão sorteado. No presente contexto refere-se com certeza à igreja, respectivamente à área de tarefas confiada a cada um dos anciãos. Duas coisas repercutem nessa palavra: que se trata de algo grandioso e que eles não o buscaram por si, mas que lhes foi atribuído. Não como aqueles que se fazem senhores sobre o que lhes foi distribuído significa textualmente: “olhar de cima para baixo”, depois “oprimir”, “subjugar”. Os anciãos devem conduzir a igreja, e nessa função também exercer a disciplina eclesial. Nessa posição de liderança reside o perigo do abuso, devido à pulsão humana pelo poder. Existe um abuso da liderança, um senso equivocado quanto ao cargo. Ao senhorear sobre os demais, os servidores da igreja se portam como senhores, privam Deus da honra e posição de domínio que lhe cabem e impõem inferioridade aos membros da igreja. (HOLMER, 2008, págs. 67-68).

Nestas três informações vemos o que Deus requer do conselho da igreja, como cada um deve se portar em relação ao povo de Deus. O vocacionado para o presbiterato quer seja a docência (ministro) ou regência (presbíteros). Tanto um quanto o outro precisam entender que o presbiterato não deve ser procurado por necessidade, não pode ser exercido de maneira forçada. Aqui reside uma advertência a tantos que querem ocupar o cargo sem serem vocacionados. O presbítero precisa ser um homem zeloso pelas coisas do Senhor. Quantas e quantas histórias são mencionadas de homens que são presbíteros e não têm o mínimo de zelo pela obra do Senhor, são desleixados. Cuidam da casa de Deus de forma re-laxada, não têm apego à doutrina, não têm amor pelo corpo de Cristo, usam de politicagem dentro da igreja. Transformam a Casa de Deus no covil de lobos.

O presbítero não é o dono da igreja, ao contrário, é servo dos servos de Deus. O presbítero é modelo para o rebanho. O povo precisa ver no presbítero um homem que preza pela doutrina, que vive a vida cristã, que batalha pela pureza litúrgica, que ama o Seu Deus. Para ser presbítero precisa ser maduro na fé, precisa amar Deus acima de qualquer coisa: mulher, filhos, mãe e pai. Para ser presbítero precisa ser modelo, precisa ser alguém que o povo deseje ser igual. No salmo 23 temos a descrição do papel do pastor. E do uso que faz do bordão e cajado para defenderem as ovelhas.

O bordão – Vara usada pelo pastor para conduzir suas ovelhas pelo caminho correto. A ovelha deve estar pronta a receber a correção do seu pastor. A ovelha não enxerga tão bem, ela se perde fácil e muitas vezes podem desviar do seu rumo. A vara ou bordão é usado para trazer a ovelha de volta ao caminho indicado pelo pastor.

O Cajado – É o bordão de pastor, com a ponta superior arqueada. O pastor de ovelha usa o seu cajado para trazê-la de volta ao seu senho-rio.

Os presbíteros exercem a função de pastores do povo de Deus. Aos apóstolos e consequentemente aos presbíteros da Igreja, Deus confiou às duas chaves do Reino. O Catecismo de Heidelberg nas suas perguntas 84 e 85 diz:

Como se abre e se fecha o reino dos céus pela pregação do santo Evangelho?

R. Conforme o mandamento de Cristo se proclama e testifica aos crentes, a todos juntos e a cada um deles, que todos os seus pecados realmente lhes são perdoados por Deus, pelo mérito de Cristo, sempre que aceitam a promessa do Evangelho com verdadeira fé. Mas a todos os in-crédulos e hipócritas se proclama e testifica que a ira de Deus e a condenação permanecem sobre eles, enquanto não se converterem. Segundo este testemunho do Evangelho Deus julgará todos, nesta vida e na futura.

Como se fecha e se abre o reino dos céus pela disciplina cristã?

R. Conforme o mandamento de Cristo, aqueles que, com o nome de cristãos, se comportam na doutrina ou na vida como não-cristãos, são fraternalmente advertidos, repetidas vezes. Se não querem abandonar seus erros ou maldades, são denunciados à igreja e aos que, pela igreja, foram ordenados para este fim. Se não dão atenção nem a admoestação destes, não são mais admitidos aos sacramentos e, assim, excluídos da congregação de Cristo, e, pelo próprio Deus, do reino de Cristo. Eles voltam a ser recebidos como membros de Cristo e da sua igreja, quando realmente prometem e demonstram verdadeiro arrependimento. Para poderem exercer seu chamado de forma correta os presbíteros precisam ter motivações corretas (HEIDELBERG, 1999, p. 64)

OS PRESBÍTEROS DEVEM SER APROVADOS POR DEUS (v. 4)

Apesar do texto não fazer menção da palavra “aprovado”. Ela está implícita dentro da lógica do verso 4. Afinal de contas, o presbítero não poderia ter aquilo que nos é dito no verso, se não fosse aprovado. O verso afirma duas verdades inquestionáveis da fé cristã.

Cristo irá se manifestar.

Cristo irá galardoar seus servos.

Pedro chama o Senhor de “Principal pastor” este termo denota muito mais de que o chefe de todos os presbíteros; como bom pastor Cristo se sacrifica pelas suas ovelhas, Ele é o protótipo de todo o ministério pastoral qualificado. Kistemaker em seu comentário diz: “Os pastores não devem jamais se esquecer de que prestam contas diretamente a Jesus, que, nesse texto, recebe o título de Supremo Pastor.” (KISTE-MAKER, 2006, p. 262) Quando o principal pastor vier todos os santos estarão diante Dele e prestarão contas. Como o nosso texto foca em cima dos presbíteros. O texto diz que os presbíteros irão prestar conta a Ele. A prestação de contas subjaz dentro da própria estrutura de argumentação de Pedro. Pois não há como receber o prêmio sem antes ser julgado. Pedro diz que Cristo irá se manifestar (particípio aoristo ativo). Nesta manifestação Cristo julgará a conduta ministerial de cada presbítero. Aqui reside algo importante que todo presbítero (docente ou regente) precisa perceber. Ele prestará contas diretamente a Jesus o principal pastor. A Igreja é Dele. Imaginem a seriedade que é isto. Quantos presbíteros serão envergonhados neste dia e quantos serão honrados neste dia. Quantos deixaram de fazer o que é correto para agradarem a pessoas que muitas vezes envergonhavam a igreja de Cristo com seus procedimentos errados. Quantos serão envergonhados, pois usaram de má fé em concílios para prejudicarem colegas. Quantos serão envergonhados por terem abandonado a sã doutrina por causa de certa quantidade de membros que muitas vezes não passavam de joio. Quantos adulteraram a liturgia em suas igrejas para agradarem a jovens rebeldes que não queriam nada com o Senhor. Quantos trataram a Casa de Deus como se fosse algo sem nenhuma importância. Quantos subiram aos púlpitos sem liturgia, sem sermões. Quantos preparam seus sermões, suas liturgias de última hora. Quantos?

Cada presbítero precisa ser consciente de seu papel. Se Deus vocacionou o irmão para o presbiterato, o irmão possui uma missão a ser cumprida. Quando o presbítero faz o que é correto diante de Deus, quando defende o rebanho do Senhor dos lobos, dos inimigos da fé, dos inimigos da verdade. Quando o presbítero faz isto, pode ficar certo que quando o Senhor se manifestar irá receber o galardão do seu trabalho.

Pedro diz “recebereis” futuro do indicativo. Quando Jesus vier, seus co-pastores receberão da parte do Senhor o seu prêmio, a saber, uma coroa de glória que nunca desvanecerá. Pedro usou o adjetivo “imarcescível” a ideia deste adjetivo é relativa a uma flor de amaranto, assim chamada por que nunca murcha ou seca e, quando cortada, revive ao ser molhada com água; assim, é o símbolo da perpetuidade e imortalidade. Mãos hábeis formavam uma coroa feita dessas flores, e a coroa era dada ao vitorioso como prova de sua glória. Mueller em seu comentário diz o seguinte:

Há uma parábola de Jesus que é significativa neste contexto, Mt 24.45-51 (o servo a quem o Senhor confia os seus conservos, no tempo da espera escatológica, para que lhes dê sustento). A palavra imarcescível, lembra 1.4, onde a herança futura dos cristãos é descrita como “imarcescível” (a palavra gr. é ligeiramente diferente). O significado é que a glória que os crentes vão receber “não passa” como a glória das flores e das realizações humanas (1.24). Nada pode tirar seu esplendor, pois ela não está sujeita a qualquer das forças que dominam este mundo. (MUELLER,1991, p. 257)

As Escrituras nos informam que Paulo perto de morrer disse: Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda. 2 Timóteo 4.8.

APLICAÇÕES

Deus vocaciona homens para diferentes funções; a uns Ele vocacionou para tomar contas dos seus santos. Estes homens precisam tomar contas do rebanho de Deus com zelo, com boa vontade e sendo modelo para os santos.

O presbítero para executar sua função precisa ser uma pessoa experimentada, não neófita, para que não caía nas armadilhas do diabo.

O presbítero precisa tomar cuidado para que não se orgulhe. O conhecimento é dado para o serviço e não para autopromoção.

O presbítero deve entender que irá prestar contas do rebanho confiado a ele pelo Senhor Jesus.

A maneira correta de tomar conta do rebanho de Deus é aplicar a Lei de Deus de forma imparcial visando os preceitos mais importantes. Ver Mt 23.23

A igreja precisa reconhecer nos seus presbíteros: homens vocacionados para a condução do rebanho de Deus e obedecê-los enquanto eles forem fiéis e leais as Escrituras.

por Rev. Jaziel Campina Cunha